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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Perdida

Vinte e muitos mas já sem estômago ( um resíduo). Sem trabalho, porque quando regressou das cirurgias e  da quimioterapia, o posto de trabalho, por causa da crise,  estava extinto como o pássaro Dodó. Vive numa aldeia, com a mãe,  onde anoitece  muito depressa. Tem medo. Discordo.
Dizia o dinamarquês sorumbático que a angústia é  a etapa psicológica que precede o medo. A nossa perdida  inverte  a equação: agora sente  angústia, antes teve medo. De cada vez que tenho dificuldade em engolir, fico cheia de medo.São só palavras.
Fala baixinho, é bonita, tem um cabelo e uns olhos parecidos com os da mãe dos filhos  do Don Draper ( para quem vê  Mad Man) . A angústia dela é um protesto burocrático contra o anti-destino: sente que não pode esperar mais nada deste mundo.
Falamos muito. Ao vivo e no e-mail que sobrevoa serranias até chegar, nem sei como, à sua aldeia. O que lhe digo ? Não desisto de ti.

4 comentários:

  1. Que maravilha de texto.
    Tem mais esperança (que eu não sei ainda hoje se é uma compota ou um fruto acabado de colher) que qualquer corpo ministerial das últimas décadas.

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    1. Alexandra,
      temos sempre a definição da Emily D.: hope is a thing with feathers

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    2. Sim, o que me lembra muito o nome deste blogue. Há qualquer coisa no colectivo que reduz a depressão :)

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