Há alturas em que tudo corre tão mal que só me apetece desaparecer.
Começa por evitar manuais de autoajuda com pensamento positivo: ensinam-te a sobreviver num mundo que não existe. Precisas é de dinheiro, trabalho e colinho, a famosa esperança sendo-te tão útil como a pulga é ao cão.
Deixa a auto-ajuda e passa à hetero-ajuda: dobra-te, rasteja, suplica, engana, distorce. Parece-te mal, meu pequeno príncipe escanzelado? A mim não me pareceu e ao Primo Levi também não.
O último parágrafo, escrito assim, é um pouco perverso, Filipe; mas creio que, pelo menos em situações-limite, será exactamente assim.
ResponderEliminarTenho de apresentar o real à realidade, Carlos.
ResponderEliminarNão sei se isto vem muito a propósito, Filipe, mas, de há uns tempos a esta parte, tenho trocado impressões com uma pessoa um pouco mais velha (já está na casa dos 40) em contexto, digamos assim, profissional. Um dia destes, falávamos de princípios éticos e coisa e tal. Ele confidenciou-me que há cerca de 15 anos vivia literalmente nas ruas, comendo o que era distribuído por grupos de pessoas caridosas ou vasculhando nos caixotes do lixo de restaurantes. Provém de uma família normal (por oposição ao que se designa por disfuncional), mas a certa altura caiu num abismo do qual parecia não ter como sair. Saiu, mas, sem avançar mais, disse-me que nas nossas vidas pode haver um dia em que a Ética colide com a sobrevivência e que tem que se escolher entre ambas; e ele, disse-me, escolheu viver. Repliquei que há um núcleo de princípios de que não podemos nunca abdicar, e ele, de modo que me pareceu paternalista, sorriu e desejou-me boa sorte.
EliminarVem a propósito sim, Carlos. Grande parte da obra de Levi é sobre isso. Não falo de devorar os filhos, mas existem situações que ocorrrem numa dimensão noética. No limite, se não sobrevivermos, nunca seremos éticos.
EliminarPrecisas de dinheiro, trabalho e colinho...
ResponderEliminarQuem não precisa?