Adoptou-me ao ponto de protestar sempre que os da casa me abraçavam, permanecendo indiferente aos abraços entre eles. Até ficar doente, não houve uma única vez em que, sentindo a chave na porta, não me tenha vindo saudar como se possuída. Mesmo quando eu demorava apenas cinco minutos para ir à garagem. Era, claro, um ser irracional, tal como o bebé de ano e meio que vem a correr para os braços do pai, acabado de entrar em casa, que retribui imitando o Alien dos filmes da Sigourney Weaver. As grandes perdas incluem elementos cénicos fossilizados.
Como nas cidades já não temos rebanhos e não caçamos nas ruas e esplanadas, sobra a protecção pessoal como última razão para ter um cão. Sendo os labradores, os King Charles Spaniels ( um must da moda estes) e outros mini-cães os mais comuns nos prédios, também esta última razão desapareceu. O real motivo, hoje, é querermos ser amados de foma incondicional por um ser irracional. Rima e faz sentido.
Ainda bem que o laço humano não é incondicional. Ainda bem que os outros não estão lá sempre prontos para nós, a dar à cauda e indiferentes ao nosso humor. O anqueo humano é sujeito à manipulação, ao equilíbrio, à culpa e à rejeição. Para além disso, não lambemos os nossos próprios genitais.