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terça-feira, 3 de junho de 2014

domingo, 1 de junho de 2014

Tristeza vai embora


Há muitos. O chucha, o zebra, o rosado do Fundão. Estamos  no tempo deles.
Estás com pressa? Pão de Rio Maior  numa tijela funda. Tomates gaspeados,  azeite fervido com alho ( pronto, microondas), meio deputado de vinagre, oregãos frescos, um ramo de poejo, uma colher de massa de pimentão. Dás-lhe uma troika mansa e um copo de água fria. Azeitonas de Campo maior em cima. Chama-se arjamolho, servi-o uma vez ao FJ Viegas,  um bom-de-boca, que não o conhecia.
Não tens pressa, porque cada dia é um a menos para o aneurisma?  Então agarra neles, tira-lhes as sementes, espeta-lhes  duas pedras  de sal por unidade  e seca-os ligeiramente em forno rotativo .  Desfia um peito de borrego marinado de véspera  em limão, alho  e alecrim ( não esqueças o Blanchot: o desejo é a distância tornada sensível). 
Recheia os tomates com os fiapos de borrego aconchegados de coentros ( poucos, para não terem ideias), canta-lhes azeite do alto e uma rodada de pimenta preta. Forno com a aliança, quinze minutos e mesa. Um justo Quinta de Pancas trina bem com eles.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

"Fiz-lhe este cinzeiro, senhor director"


Petrarca consola o viúvo: espera-te  a liberdade, já não tens adversário.
As relações longas e boas são uma espécie  de prisão agradável .Resta saber se, como na prisão dos irmãos Dalton eternamente capturados por Lucky Luke,  o simpático velhinho quer ir lá para fora.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Senta-aqui-enrosca-ali


É uma emoção muito animal e muito humana. Quando observamos  ao vivo os bichos, ou lemos/vemos sobre os  costumes dos  que não podemos observar, notamos que o contacto físico  joga um papel  crucial. Às vezes há mal-entendidos. As pessoas julgam que o cão dá pata a pedir festinhas. Não:  o cão põe-nos a pata em cima, é um acto de dominação. O amável  sexo entre os pais ( ou terceiros) presenciado por uma criança pode parecer violento ( às vezes até é...).
Um tipo que gosta de uma rapariga e a namora, põe um bracinho por cima, dá-lhe mão, toca-lhe na face etc. Um tipo que quer violar uma mulher segue-a à saída do bar , agarra-lhe nos braços, empurra-a e puxa-lhe os cabelos ( encontram aqui velhos conhecidos como o Dunbar). O toque  humano ( com ou sem oxitocina) destina-se  a tranquilizar. Já sei o que estão a pensar: Então e o pedófilo velhaco que acaricia as crianças? Por estranho que pareça, a intenção é a mesma.
Mesmo em casas despassaradas,  com horários desencontrados e muita pressa, tem de haver tempo para um senta-aqui-enrosca-ali. Como dizia o Bioy  Casares, a intimidade é comentar o mundo. Por exemplo, um pedaço de telejornal tardio com as pernas dela em cima das nossas ou, no caso dos petizes, adormecer ao lado  deles a ouvir fofocas da escola.

sábado, 24 de maio de 2014

Neuras

"You're so neurotic!" It's a phrase that's tossed about casually, but what exactly is neuroticism? It is a personality trait defined by the experience of chronic negative affect -- including sadness, anxiety, irritability, and self-consciousness -- that is easily triggered and difficult to control. Neurotic people tend to avoid acting when confronted with major and minor life stressors, leading to negative life consequences.

Ora bem. Há a velha história da adaptabilidade dos traços de personalidade. Nos anos  80 e 90 era comum os psis dizerem que a agressividade competitiva, outrora mal vista, resultava da selecção de características apropriadas aos tempos. Nunca comprei muito  isso, porque falta sempre volume para tais conclusões.
Os neuróticos, aceitando que o artigo fala disto pela rama, não são mais do que o inverso do realistas depressivos ( já aqui tratei disto várias vezes). Enquanto estes, por feitio e/ou experiência, esperam pouco da vida e por isso a apreciam e suportam os golpes, os neuróticos  são pessoas  sonhadoras, fantasistas e, eventualmente, mal-amadas. Se fossem bichos seriam rinocerontes.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Precisamos de novos passados


Uma coisa que não podemos fazer na velhice é reescrever a nossa história, isso fica para exercícios destes ( quem sofre de  imaginação errática tem estes escapismos). Como ficamos?
Quem vive no eixo estóico, com mais ou menos dificuldade, tenta sacar o máximo de cada dia. Não, não se trata de aproveitar o dia: carpe diem, em Horácio,  é despede-te do dia. O negócio, como dizem os brasileiros, também não é viver cada dia como se fosse o último ( isso fica para Hollywood e James Dean).
O que se passa é que cada dia é único, total, completo:
 Levantas-te de manhã, bebes café, reservas as férias de Agosto, fazes as contas ao IMI a pagar no fim do mês, enfias-te no carro em direcção a Lisboa, passas a portagem e um velho de 85 anos, em contramão, esmaga-te de tal forma que os bombeiros precisam de duas horas para te desencarcerar.
Tu e o velho , o futuro e o passado, realizam o resto da  promessa de Horácio " e não esperes nada do dia de amanhã".

domingo, 18 de maio de 2014

Bipolar quizz



Este não está mal feito.
A confusão da bipolaridade com traços  ciclotímicos ( este  resumo simples pode ser entendido por qualquer  pessoa) é cada vez mais frequente. Os bichos da foto são as leoas de Tsavo, embalsamadas e expostas num museu americano. Comeram um número indeterminado de coolies ( trabalhadores indianos), talvez 150,   do Lunatic Express, a linha de caminho de ferro que uniu Mombaça a Kisumu, nas margens do Lago Vitória. Tudo very imperial.
Os leões chegam a passar vinte horas por dia a dormir. Não são bipolares porque estão muito bem adaptados ao meio. São ciclotímicos de sucesso.