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terça-feira, 29 de setembro de 2015

O inferno não são os outros

Esperamos sempre que as coisas resultem  porque os outros são melhores do que nós. 
Mrozek sabe do que fala. Apoiou o regime de terror comunista polaco ( assinou uma célebre carta aberta  concordando  com a execução de padres católicos, comparando-os a tipos das SS) mas depois casou, fez uma viagem a Itália com a mulher e desertou. É um bom dramaturgo e cartonista, mas, como passou para o lado errado,  em Portugal, por exemplo, quase ninguém o cita nem edita ( só temos "Os Emigrantes" ). 
Ao contrário da cartilha freudiana, estafadamente repetida, os outros podem fazer-nos melhores, sim, sobretudo se antes éramos  muito maus.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O tempo não cura nada

 Excepto presuntos. De Vinhais. Três anos. Ou da  Quinta da Folga ( menos  tempo mas óptimos também). O que o tempo faz às perdas  ( de gente ou de relações) é afogá-las. Por exemplo, em mais perdas.
À medida que o tempo passa continuamos a perder. Tempo de vida, dinheiro, paciência, outras perdas. Se ganhamos, ou seja, se juntamos coisas  boas ( mais amores, filhos, livros, presuntos) estas também acabam, de uma forma ou de outra,  e, por isso, são, à sua maneira,  mais perdas.
Nenhuma veleidade: só Napoleão para derrotar Napoleão.


terça-feira, 22 de setembro de 2015

No alvo

" Some people aren't actually anti social, they're just very selective when it comes to the people they associate with".

(https://twitter.com/psychologicaI/status/646443501379432448)

domingo, 20 de setembro de 2015

De uma excursão islandesa à Baía dos Porcos


Por vezes acontece-nos isto. Procuramos  por nós, de forma suave e persistente, em todo o lado. Não nos encontramos porque nunca estivemos perdidos, apenas nos distraímos.
Richard Bissel foi o homem da CIA responsável pelo brilhante plano de invadir Cuba ( Kennedy é sempre desonerado de toda as trapalhadas  excepto a de Marilyn Monroe).  Com a exigência de não haver americanos envolvidos, e como era necessária cobertura de  aviação, Bissel inventou uma força área cubana livre. Então as praias de Miami viram um cubano, em treino,  a pilotar um B-26 supostamente cubano sendo que não havia B-26 em Cuba. 
Moral da coisa: somos o que não podemos  ser.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Seres enfadonhos


Todos os conhecemos. Quando os saudamos, retribuem  mas já têm  uma sólida  na culatra:  sabes lá  a minha vida / ai estás bom? pois eu nem sabes o que tenho passado/ cá ando a aturar aquele chato / não imaginas o que beltrano me fez/  sabias que sicrana etc etc?
Por coincidência , depois do relambório autoreferencial,  costumam , se lhe damos azo, passar à segunda  modalidade preferida: dizer mal de terceiros. Pode ser das pessoas com quem passaram férias, de um filho, dos pais, dos amigos, do chefe, da empregada.
Curioso é que se examinarmos as suas vidas nem encontramos as grandes tragédias que  parasitam outras existências. Até isso lhes falta.
São seres enfadonhos porque absolutamente previsíveis. Levam uma vida monástica, pertencem à ordem dos neuróticos impotentes.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Contra a corrente


 A corrente:

1) Não é por ser meu filho, mas ele é  muito inteligente.
2) Preciso de me realizar profissionalmente.
3) Não sou de invejas.
4) O tempo cura tudo
5) Ou me aceitam como sou ou então adeus.
6) O que conta é o amor.
7) Não me arrependo de nada.


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Fobia social não é timidez


Da mesma forma que  o desembaraço social não é má-educação, a fobia social não é timidez.  Pode haver trocas de sms, claro, mas são coisas diferentes. 
Tendo a ver os tímidos como Conrad descrevia  as âncoras dos navios: An anchor is forged and fashioned for faithfulness. Há neles uma força tranquila, uma espécie de certeza de que só farão o que for necessário, mas fá-lo-ão sempre. Digo-lhes muitas vezes para não se deixarem acabrunhar só porque ficam de mais de lado numa roda de amigos ou não reagem ao primeiro impropério que lhes lançam.


domingo, 6 de setembro de 2015

Fobia social e distância crítica


Sobre sintomas e história têm tudo à disposição na net, vou por outro lado.
Conheço um psiquiatra com fobia social . Cora ( ou pelo menos corava) se cumprimenta um conhecido na papelaria da esquina. Depois há aqueles que falam  a olhar para o chão. E, claro, uma mulher belíssima, que comecei a ajudar tinha ela 15 anos e hoje é uma médica de 28: tem pré-crises de pânico quando precisa de apresentar um paper num congresso.
Em comum, uma reacção química que a presença de humanos lhes provoca. Curioso, a maior parte dos fóbicos sociais que conheço têm imensas competências sociais. São generosos, trabalhadores  de equipa, dão-se bem com pessoas. Até ao momento em que se sentem avaliados/observados.

O  outro extremo é do actor social. Está tão bem numa feira de presuntos  como  num salão académico. Se vai apresentar um trabalho  numa reunião e não o  preparou, representa. Enquanto o fóbico social sente o peso de cada olhar humano, o actor social não vê ninguém.
Existe meio termo? Claro. Este sinceramente  vosso, por exemplo, confraterniza com feirantes e cavaqueia com velhotes na peixaria: sabe que tão cedo não os volta   a ver.

No fundo, a gestão do espaço, da distância crítica. Este artigo antigo resolve a curiosidade de alguns. Se o  fóbico social aprender a ter confiança na distância que interpõe entre si  e os outros, melhora. Infelizmente, muitos terapeutas escolhem o caminho inverso :forçam  o desgraçado  a diminuir essa distância.

Hoje, domingo, para o terraço; não dances sozinha/o

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Disease mongering

Os inventores de novas doenças:

"Critics such as Payer and Caplan maintain that the routine human condition—unhappiness, bone thinning, stomach aches and boredom—is increasingly being re-defined as disease: depression in its milder forms, osteoporosis, irritable bowel syndrome and attention deficit disorder. Likewise, risks factors, such as high cholesterol and high blood pressure, are declared diseases in their own right—hyper-cholesterolaemia and hypertension—with falling thresholds resulting in more people considered to be sick. In other cases, drugs approved for devastating illness, such as clinical depression, are indicated for milder conditions, such as shyness, which is now dubbed 'social phobia".

 No outro dia pus no twitter um link para um artigo ( enfim...) sobre depressão e ansiedade em ...cães.