Já não me podem ouvir, no consultório, com isto da cabeça fria. E com razão.
Estou a chegar aos 50. Levo metade da minha vida nesta faina ( muitas centenas de histórias de vidas acompanhei), enterrei um filho, tive um cancro, publiquei quatro livros, ou seja, tenho obrigação de saber alguma coisa. Se tivesse de resumir o que sei ( não é muito difícil) sobre situações delicadas já sabem o que diria.
Cabeça fria não é indiferença ao perigo, grace under pressure, aplomb, panache, valentia. Cabeça fria amarfanha a condição estóica (1) e o instinto de sobrevivência (2):
1) Significa aceitar o que nos acontece sem raiva ao mundo nem auto-comiseração, mas também sem desistir. Cada dia é um ciclo inteiramente novo ( daí a deriva popularucha do um dia de cada vez, que se conduzir ao cadafalso não adianta muito), o passado é nosso, o presente está a ser feito, o futuro estou-me nas tintas.
2) Queres ou não viver? Se queres, tens de viver bem. E viver bem monta um cavalo decidido, que sabe para onde vai. E um cavalo precisa de um cavaleiro que lhe diga para onde ir, que saiba para onde ir. A hesitação, a tremura ou a intrepidez estouvada fazem-te cair da sela em segundos.