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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Obsessionem

 Foi reitor da universidade de Upsalla e professor de medicina: teimava que a Suécia era a Atlântida e que o sueco era  a língua de Adão. Mais do que o  delírio histórico-linguístico, importa assinalar a universalidade da ideia obsessiva. Ela é uma espécie de vespa asiática. Ou de muro.
O exemplo de Rudbeck mostra  duas coisas:
a) A obsessão alimenta-se dela própria: quanto mais tempo dura, mais cresce.
b) É independente do teste da realidade.

Tenho em mãos ( salvo seja)  três mulheres obcecadas com  três   homens. Duas delas, aparentemente, tentam deixar de gostar deles. A obsessão assume por vezes esta forma. Nos assuntos românticos pode parecer estranho, mas nos rituais compulsivos já  encaixa: por exemplo, a pessoa que tem de fazer quatro cargas de máquina senão acontece alguma coisa  ao filho. A ideia de que temos de deixar alguém mas que não o  conseguiremos é um ritual compulsivo. Estendido.

Se temos  um muro à frente,  não adianta bater com a cabeça nele. Interessa procurar o tijolo solto. Nas obsessões, o ponto fraco tem de ser procurado com paciência  e detalhe.  O amor-próprio ( também conhecido pelo termo garagista de auto-estima) costuma ser uma boa lanterna se a pessoa conseguir perceber, ao contrário do nosso sueco, que a obsessão só gosta dela  própria.

4 comentários:

  1. Tantas e tantas vezes, batemos com a cabeça nos tijolos repetidamente, em vez de esperar pacientemente para ver se há rupturas. Fazemo-lo porque não sabemos esperar, porque queremos controlar a nossa vida ao máximo, na esperança que eles se soltem com o nosso esforço desmedido e tragam a luz que tanto queremos, mas que por algum motivo está do outro lado do muro. Mais dificil que a falta de amor-próprio, que nos deveria confinar a VIRTUDE da segurança e da consequente paciência, é o excesso de pequenez (bela antítese) que nos faz querer tudo à nossa maneira, como crianças mimadas e descontroladas pela ansiedade. Viver é simples. Dificil é ser tão simples.

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  2. concordo com a metáfora da vespa asiática - as obsessões atazinam e zumbem às nossa volta, quem quer esse incómodo? e no entanto... queixava-me um dia a um amigo "é tudo uma montanha-russa!". Responde ele, "mas nós queremos a montanha russa..." Ninguém quer a obsessão que dói, é uma questão de sobrevivência - e então se dói, é, se calhar, já sinal de alguma saúde - mas, também, talvez as palavras sejam insuficientes. Se não houvesse obsessão, se calhar não havia arte, literatura, ciência - esse perseguir solitário de um caminho, nem caminho - um sulco, uma hipótese, uma coisa frágil chamada ideia, sem certeza de nada, sem ver a chegada. Nem todos temos talento, imaginação ou empurrão para transformar essa substituição de viver a que chamamos obsessão por uma obra de arte, nem sei se resultava vermos o objecto-obsessão, mas sempre íamos fazendo lindas colchas em crochet!

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