email para contactos:
depressaocolectiva@gmail.com
depressaocolectiva@gmail.com
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Apartheid mental: os deprimidos-saudáveis
A representação comum, estereotipada, da alegria. Grupo, saúde física, natureza. Se colocasse aqui uma equivalente da depressão escolheria a imagem de uma pessoa com olheiras e enroscada na cama com as mãos na cabeça. Estas representações têm em comum o código corporal. a tradução corporal dos estados mentais. O que acontece quando essa tradução não existe?
Há pessoas deprimidas que nunca disseram aos outros que se sentem deprimidas e bem: os outros não acreditariam. São pessoas que riem, trabalham, dormem bem, convivem, fazem desporto, não tomam antidepressivos. Então e podem estar deprimidas? Podem. E muito.
O que a vulgata não conta é que o tom depressivo pode conviver com um estilo de vida dito normal e até muito agradável. Isto acontece porque alguns de nós orientam o pathos depressivo para fora da corrente quotidiana, mas há mais. A tradução comportamental resulta da falta de controlo. Por exemplo, quando estamos encolerizados e nos portamos como tal. Os deprimidos-saudáveis exercem uma vigilância apertada sobre o afecto depressivo. O medo, a angústia, o deslace da vida , são mantidos em regime de apartheid do quotidiano normal. Dir-se-ia que um contrato social se estabelece: podes ser deprimido se não pareceres um.
Muitas e variadas razões podem ser responsáveis. Há pessoas que deprimiram em função de acontecimentos, outras arrastam fastios de infância mal resolvidas, algumas exprimem heranças. Seja como for, todas resolveram casar com a depressão sem se deixar dominar por ela. Por vezes, estes deprimidos-saudáveis retiram algum prazer em dominar a melancolia e o pessimismo . Outros conseguem arranjar nichos ecológicos para a depressão brincar à vontade. Falaremos disto mais tarde: o realismo depressivo?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
excelente regresso.
ResponderEliminarse o país está cada vez mais deprimido, é difícil não se ser apanhado pela "doença", cada vez mais colectiva.
todos conhecemos não um, nem dois, mais uma dúzia de casos de pessoas que vivem mal, que passam necessidades, a todos os níveis.
Em 1990 reparei que, pelo Natal, a melancolia tomava conta de mim. Depois, em 2000, reparei que tinha períodos de apatia e tristeza sem motivo.
ResponderEliminarInstintivamente, comecei a fazer caminhadas regulares, três horas, vinte quilómetros, obtendo aí um alívio e uma euforia incrível, de bebedeira, mesmo.
Há um ano dei mais um passo em frente no sentido inverso do abismo, da melancolia: comecei a correr. Caminhar horas seguidas não chega.
Desde 1 de Janeiro, jejuo e corro, Filipe. Almoço, janto. Só. Por vezes quebro a disciplina simplesmente por ter consciência de que, embora o organismo se habitue, a corrosão gástrica pode gerar um problema.
Que gajo sou eu? Que rótulo no divã teria eu?
A única vez que estive nessa posição tinha 14 anos, consulta única, 10 contos, um tal de Geada, Avenida da República, Gaia.
Ouviu-me a contar a minha Revelação Espiritual disfarçada de «esgotamento nervoso». Nada disse por trás da sua barba. Só me recordo da penumbra da sala e da ponta dos dedos do dr. esfregando-se, polegar-indicador-médio, à espera da nota.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarExcelente artigo, esperamos a prometida continuidade!
ResponderEliminarVerdade?
ResponderEliminar