Usa-se no futebol, na descrição dos debates políticos, em todo o lado em que acontece o que devia acontecer. Dioníso de Helicarnasso achava que não. Ninguém conseguiu definir a arte da oportunidade, nem mesmo Górgias de Leontinos, que terá sido o primeiro a escrever sobre o assunto. Traduzindo em passe vite a ideia de Dionísio: dependendo a arte do kairos de uma situação determinada, julgada pelos olhos de quem a vê e ocorrendo num instante preciso, que, por sua vez, é o produto de momentos anteriores e coevos, é impossível definir a arte.
A altura certa para dizer a verdade, o momento benigno para abandonarmos, o segundo preciso em que desistimos. Arrisco contrariar Dioníso ( espero que no instante certo): domina a arte da oportunidade quem duvida do futuro.
O tempo desempenha um papel essencial. Lembro-me de uma mulher. Trintona, engraçada, amarrada um marido desleixado, um café de aldeia em comum, dois filhos. Enamorou-se de um tipo que lavava os dentes e tinha facebook. Discutimos a situação várias vezes, a coisa arrastou-se durante um ano. Um dia entra-me pelo gabinete com cara de quem foi ao pote das bolachas. O marido morrera de repente. O problema: agora não conseguia juntar-se com o outro. Remorso, culpa, fosse o que fosse.
Lembro-me que estiquei as pernas, olhei para a janela do gabinete e resumi: Agora é tarde, Inês é morta.
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