Ouço estas queixas muitas vezes. Ontem, na clínica, ouvi-as da boca de uma mariposa (uma mulher que fez um trabalho espectacular e já não tem medo de confiar num tipo). Elas sabem. A lampada do exaustor está fundida há três dias. O caixote das tuas tralhas da mudança está ao canto há dois anos. Estás há um mês para renovar o BI do garoto.
Elas nascem com um número de óvulos pré-determinado, ovulam quase sempre no mesmo dia do mês, geram uma criança em nove meses. Elas vêm programadas para a ordem e para o controlo.
Nós produzimos num mês espermazóides suficientes para fecundar todas as mulheres da UE ( dados anteriores à entrada dos países bálticos) mas a possibilidade de fecundarmos a quota feminina do prédio é mínima. Vimos programados para lançar o caos.
Elas estão convencidas de que se não existissem, a casa era uma república de estudantes. Têm razão. Futebol total, livros e latas de cerveja por todo o lado, colecção de rolos de papel higiénico no WC . Elas não entendem arte moderna. Perguntam de que serve guardar "A Bola" do mês passado ou tubos de tinta de aeromodelismo do tempo em que os miúdo seram miúdos. É o anti-destino de Malraux, conceito alheio ao pragmatismo delas. No fundo, aturam-nos porque assim estava programado.