Até foi Numa Pompílio que acrescentou Janeiro ao calendário, embora sete séculos depois o velho Júlio César tenha consagrado Janus como o começo do novo ano. Janus, deus das mudanças, das entradas, dos portões, enfim, um deus atarefado. A bebedeira romana pagã, que simbolizava a desordem do mundo antes dos deuses, interessa pouco aqui. O osso é a esperança no novo ano. Na minha confraria estóica, um disparate. Antes de atirar as primeiras pedras, pousem o copo.
Não há nada de mal em ter esperança, claro. Um tipo vai registar o totoloto e espera a sorte, mas o que os desesperados nos ensinam é que a esperança é um acidente . Primo Levi, em entrevista a Germaine Greer ( The Literary Review , Nov1985): Cada sobrevivente representa uma excepção, um milagre, um ser com um destino particular.
Já celebrar, eufórico, um tempo que ainda não aconteceu, mesmo com a ajuda das próteses hodiernas ( champanhe, passas, vestidos de gala) é um insulto aos deuses. Vivem bem com isso, eu sei, mas o pior é outra coisa: contam com a excepção, julgam garantir o milagre.
Para mim, a passagem de ano/Janeiro assume um papel igual que o botão «reset» tem nos computadores antigos: os problemas/vírus/más formatações permanecem, mas o computador arranca com um pouco mais velocidade porque deixa de trabalhar em tantas tarefas simultaneamente. Lá para Abril volta a estar sobrecarregado, e não tenho grandes esperanças em milagres no ano que entra (qualquer o ano que seja). Mas a paragem Natal/passagem ano faz-me realmente recarregar baterias.
ResponderEliminarCarlos