As combinações são imensas, mas o resultado é sempre o mesmo: chave à porta e ninguém.
P. tem 62 anos, engenheiro reformado, solteiro de gema. Passou por períodos difíceis do ponto de vista da saúde mental, recuperou uma boa parte da autonomia e agora tem pesadelos com asilos. Sobretudo interroga-se: por que não me casei, por que não tive filhos? A solidão dele é de chumbo, mas sabem uma coisa? De toda a gente que tenho em terapia, é o que melhor lida com ela.
L. é economista, tem 40 anos e está desempregada. A esta situação transitória ( tem neste momento boas possibilidades em carteira) junta-se o deserto amoroso. E um deserto que arrasta o sol e os lacraus, porque remete para o seu ( pouco) amor-próprio ( os burocratas chamam-lhe auto.estima). É uma mulher com garra e vai dar a volta, mas não é para já.
O livro II dos Remédios inclui 84 conselhos, mas nenhum especificamente para a solidão. O que mais se aproxima é o 78, o remédio para o torpor animi, a lassidão/languidez. Petrarca pergunta ao sofredor: Quem pode dormir no meio de tantos perigos e esperanças? A ideia é a do tempo perdido. A motivação não é bonita mas é eficaz: despacha-te que ampulheta não pára.
A solidão - se não desejada, claro - bebe muito do torpor. Tanto o P. como a L. me falam disso com frequência. Não chego aos calcanhares do meu caro cripto-estóico Petrarca, mas a linha de trabalho que sigo também passa por usar os medos e a frustraação ( dos desejos) como muletas para o caminho.
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