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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O fogo ao pé da estopa

Depressão, colesterol elevado, menos  actividade sexual. Aparentemente, sem  relação.
Talvez não. Peguemos  num dos serranos do Candal, terra do Louzã Henriques, e imaginemo-lo. Deprimido, com colesterol elevado e sem pavio?
É claro que tudo é possível, mas também há muito tempo  que se discute o perfil psicológico do homem avançado. Desde o velho Freud  ( mesmo velho, dos últimos dias), que sintetizou com acerto:

-  3 causas da miséria: o nosso corpo, os outros, o quotidiano.
-  3 remédios: as satisfações substitutivas, as distracções, os estupefacientes.

Darei seguimento  a isto,  mas para já  fiquemo-nos pela  análise  da terceira  causa. As doenças metabólicas, as rugas, a barriga etc. Os outros:  as relações. Pais, mulheres, maridos, filhos, vizinhos, colegas. O quotidiano, por fim: o que é? No tempo do Freud tardio, era uma brincadeira comparado com o de hoje. Dizem os progressistas que estamos melhor, dizem outros que estamos mais apertados. Pouco me importa.
O fogo ao pé da estopa até o diabo lhe assopra. As depressões aumentaram com a sociedade de bem estar ou foi ela que deu resposta à tristeza que sempre existiu? Respondam vocês, que chegou o Outono, a coisa das folhas caídas.

11 comentários:

  1. Eu cá distraio-me,se não fosse este chasso informático não poderia ir ali ao lado...e depois há os livros,a música,algum afecto.

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  2. É isso, a discussão é muito rija. Há vários pontos. Tenho de ir ao telemóvel, ao facebook etc

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  3. Expectativas, frustração e ressentimento. Tudo muito criado e alimentado nas pantalhas. Mas o "caso português" também conta.

    Eu, por exemplo: nascido em 1976, filho de pobres, quase sem instrução, mas no tempo da educação "barata" - bolsas, residências, etc. - pude concluir uma educação superior. Fui, horror dos horrores, um aluno exemplar. O país crescia com a Europa e no virar dos anos 90 o céu era o limite. Entre mim e os meus pais, não uma, não duas, mas várias gerações de diferença. Entre mim e a minha avó, criada num Alentejo quase medieval, séculos de diferença. Atirado para a "contemporaneidade" e para a educação do poder com um curso superior mal tirado e um cocktail de fragilidades que os meus pais, mesmo que quisessem, não tinham ferramentas para detectar, entender ou lidar.

    Resultado: Falhanço mediterrânico sem conseguir largar as ambições anglo-saxónicas: combinação explosiva para o ânimo: não estou à altura; sentimento de culpa; horror a mim próprio.

    Sou um destroço do Portugal da CEE.

    Pedro M.

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    1. Ohohoh...expectativas...Como sou muito mais velho,entroikado pela 3ª vez(desculpem mas di-lo-ei até ao último sopro---3ª vez que sofro isto).
      Expectativas,olhe,eu tive de as reavaliar,baixar,procurar chegar ali à esquina...E em chegando reavaliar o próximo troço...cantarolando e coxeando pelo caminho...bom-dia,que tal vai isso?...continue.
      Olhe que o técnico não sou eu,é o patrão ali em cima,que nem sei se aprova isto.

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  4. Acho que Deus nos deu uma grandes oportunidades para despertar o Deus que há em nós. Quando Deus acordar olhamos e vê-mos que o nosso aquário era tão pequeno e que o nosso corpo não é mais que a folha de uma árvore à beira de um rio onde muitas outras folhas já caíram. Deus fez as árvores para os homens respirarem e penso que as folhas nos dão o ar que respiramos. Muitos de nós não imagina como será o ar de climas tropicais ou de desertos ou gélidos. Os indianos acreditam que muitas dessas folhas foram os nossos antepassados.
    Nós olhamos para as árvores e podemos passar dias a ver as folhas que caem ou a nada no rio se não quisermos ir a uma boa praia.
    Contudo o rio tem muitos peixes, alguns deles que atacam pessoas e em momentos de catástrofe tentamos agarrar às raízes dessas árvores para chegar a terra e quanto não saberia bem sentir a firmeza das árvores e a fragilidade das folhas depois disso. Outras vezes saltamos ao rio para apanhar peixe ou cumprir o papel das árvores na imensidão de possibilidades que há em águas tumultuosas. Por aí adiante...

    A sociedade. Sou muito jovem e inocente para perceber algo do mundo, ainda para mais nem tenho as ferramentas. Somos uma nação e conquistámos grande parte do mundo porque não éramos capaz de conquistar os nossos vizinhos e para lá. Percebemos que poder é muito importante mas tememos pelo poder dos outros. Assim nos ensinaram.

    Sonho com um mundo em que agarrássemos em 'pedaços' de cada depressão e problema social, os conjugássemos de uma certa ordem e aí tínhamos a cura para as tristezas.

    Às vezes a depressão aqui é felicidade na Índia, às vezes tristeza aqui é alegria em África, às vezes direito aqui que são deveres na Suécia, às vezes passatempos aqui são imagens da nação, às vezes felicidade aqui é tristeza no Japão, às vezes moral aqui é desumanidade em certas correntes de pensamento, às vezes o que se faz aqui nada mais que é para tentar deprimir ou alegrar o povo e nada mais, só ter a ideia de que existe e pronto. Tirar o paladar de um bom vinho e depois bebê-lo todo e ver que afinal no fundo era vinagre.
    Os outros não somos nós. E nós não somos os outros? Como é que se nega a primeira? Língua estranha. Ou eu que não sei escrever. "Não é nada".

    O Freud viu os amigos dele partirem por sua causa. Será verdade? Mas todo o seu trabalho foi bom? Qualquer sânscrito tirava muito dessas conclusões, embora me ensinassem que nunca se pode ler tudo, só tirar as pequenas partes que quero e entender o resto.
    O mesmo com os outros. Se Freud me analisasse eu era corrido para os confins do esquecimento. Se Hoffmann me lesse eu nunca iria ter vida nos estudos. E eles são os outros. Duas correntes no mesmo rio, duas folhas da mesma árvore.

    Fiz muitos erros na vida perante os outros, que foi basicamente ser arrogante e desconectar-me e querer manter-me conectado. Acredito em tudo o que me dizem porque acho que se não fosse verdade não iriam perder tempo a dizer-me isso. Gosto muito dos outros porque realmente formam um mundo e uma sociedade embora nem todos folhas da mesma árvore. E tenho inveja e pretensão de querer um cheirinho disso, nem é já um gosto...

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  5. Só se o "caso português" também conta...

    Vejamos, cresci numa família cultivada e privilegiada de FP, com emprego para a vida (um casal, ambos). Havia comida na mesa, dinheiro para estudar, férias e momentos de alegria. Contudo o que recordo é que por defeito o humor era neutro ou mau. Por defeito, o fim do dia era era de tensão e, mais do lado do patriarca, de frequentes "puta de vida!" rosnados... que os restantes driblavam como podiam, mas que envenenava deveras o ambiente.

    Ora ao longo da vida não tem sido muito diferente diferente. O mesmo cenário em que a vida e o (apesar de tudo, bendito) quotidiano são vistos com raiva e desprezo (não sei de quê, garanto) No desemprego evito o desespero com a tal estoicismo de sobrevivente. Evito a tristeza, esforço a alegria mas (não sei se estou a ver bem) choca-me esta raiva latente, prevalecente. - sejamos sérios: não nos ensombram grandes desgraças, somos livres, há muito para fazer, a vida não é assim tão má... Fico com a ideia de que nós, portugueses somos viciados na tristeza. Sou só eu? tive azar? o FNV pode explicar isto?

    Je

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  6. P.S: a comida era boa. A intimidade não sei, era privada...
    Je

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  7. O problema não está nunca fora de nós (e o corpo em certa medida, também está fora). Está no discernimento que somos capazes, e no Perdão. Sim, por tudo o que disse, é essencial o Perdão.

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  8. O corpo, o meu corpo prega-me tantas partidas! Por vezes sinto que ainda sou uma jovem de vinte anos mas rapidamente arrefeço porque alguma mazela estranha me faz descer à terra. Não são as rugas e os cabelos brancos que me entristecem, são antes o reumático e outras coisas inconfessáveis. Eu gosto do meu velho corpo apenas não consigo partilhá-lo.

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