Crisipo, no
Therapeutikos, Crantor e Séneca ( imagem) estabeleceram a psicoterapia ( as consolações) num eixo estóico-epicurista, sim, ou seja, apelando a razão e a normas filosóficas que transcendem a existência individual. A psicologia de hoje rende-se aos indivíduos, tornando impossível descortinar qualquer patamar de normalidade ou responsabilidade.
Scio a praeceptis incipere omnis qui monere aliquem uolunt, in exemplis
desinere. Diz ele que às vezes se pode inverter a ordem - começar pelos
exemplos e acabar nas recomendações - porque é preciso adaptarmo-nos a
cada caso particular. Por isso, Séneca, na consolação a Marcia, a quem morre o filho, escolhe os exemplos de Octávia e de Lívia, também elas sobreviventes do luto. O objectivo terapêutico do estóico é opor a Márcia exemplos de resistência, para que ela não fique como
o capitão do navio que, no meio da tempestade, desiste de luta contra as vagas e deixa que as velas se rasguem à ventania.
Quando o meu filho morreu, o Carlos Amaral Dias, nos jardins do hospital, pegou-me pelo braço e caminhámos em silêncio. A certa altura só me disse esta coisa fabulosa:
Não deixes que isto te torne amargo.Tenho um doente que ficou assim. Sendo psicanalista, portanto, adversário do método
therapeutiko estóico-epicurista, foi , no entanto, esse método que utilizou, ainda que de uma forma particular.
O último caso que acompanhei foi o de uma senhora que perdeu um dos dois filhos. Morreu já adulto num acidente. Já nada lhe interessava , só queria ir ter com ele. É uma mulher simples ( sem instrução como diz o Soares sobre o Eusébio) que compreendeu isto que lhe disse:
Você não é só uma mãe de um morto. Também é mãe de um vivo, é mulher de um homem, irmã, tia, prima, amiga.
A sua dor é de todos. Aceitou e recuperou, que é como quem diz, vive. Amputada, para se salvar da gangrena, mas vive.