email para contactos:
depressaocolectiva@gmail.com

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ansiedade e treino (II)


A escolha das imagens não é inocente. O treino físico é um óptimo ansiolítico. Ainda faço duas séries de press de banco com 60kgx8 ( à antiga, não gosto de máquinas) e se lhe juntar umas elevações na barra ( as da foto e as em supinação) até consigo ouvir o Jorge Jesus sem me subir a tensão arterial. O problema? Como disse no primeiro número,  qualquer ansiolítico natural tem de ser adequado às características da pessoa. Há muita gente que nem 10kg quer ou pode levantar. O treino físico tem outra conexão com a nossa tarefa. Exige compromisso, rotina e  ajustamento gradual. Onde as águas se separam é na cosa mentale.
Como bem recorda Humberto Eco, para falar de chuva não basta sentir gotas de água que caem do alto, porque pode tratar-se de alguém que está a regar flores  de uma varanda. Um estado bestial de ansiedade também  escraviza  o eixo absoluto-relativo. Por exemplo: a Maria está em casa e começa a sentir um aperto no peito. Esse aperto vai transformar-se no receio de um  possivel enfarte.  A Maria até pode saber que não é enfarte  ( a rega das plantas da varanda), porque fez exames no dia anterior, mas sente como se fosse ( as gotas de chuva).
Treinar as emoções pode parecer bizarro ou até impossível, mas não é. Os actores fazem-no, as crianças fazem-no ainda melhor ( nunca viram uma birra?), algumas mulheres treinam  orgasmos. Dir-me-ão que isso é  fingir. Sim  e não. Todos esses contextos implicam investimento emocional, todos eles pressupõem um ganho.
Tenho dito à Maria que quando começar a sentir o aperto no peito  vá fazer uma coisa que gosta. Claro que a Maria pode praticar isto porque costuma sentir a ansiedade em casa. Ir fazer uma coisa que gosta ( subverter a dieta, telefonar à  namorada, etc) significa escolher um bom estado emocional. A soma  das duas posições - ansiosa/prazenteira -  não será tão boa como a neutral/prazenteira mas será muito melhor do que ficar sentada no sofá a sofrer. E isto faz toda  a diferença.

10 comentários:

  1. «A soma das duas posições - ansiosa/prazenteira - não será tão boa como a neutral/prazenteira mas será muito melhor do que ficar sentada no sofá a sofrer. E isto faz toda a diferença.»

    Confirmo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ainda bem, Carlos, assim não me fuzilam já..

      Eliminar
    2. Bom, a minha sobrinha levanta mais aos 25 anos:)
      Por outro lado (e isto não constitui crítica para nenhum de vós, que gosto de ambos, embora a adore e do Filipe só goste :), a cena do corpo faz-se de mais modos. Mentais, claro.

      Eliminar
    3. Não me parece que tenha dito nada que justifique um fuzilamento. O meu «confirmo» foi apenas uma partilha da minha experiência pessoal. Em momentos difíceis do ponto de vista emocional, e tive alguns (tudo isto é relativo, claro; haverá quem tenha passado coisas bem piores, mas cada qual sabe de si, e a dor alheia nunca aliviou a minha, bem pelo contrário), o que o Filipe descreveu foi uma forma de ultrapassar ou, pelo menos, aliviar a minha dor. Não resultou sempre, mas resultou muitas vezes.

      Eliminar
    4. Alexandra: não é levantar é repetir.
      A sua sobrinha faz séries de repetição 8x com 70 ou 80kg? Grande rapariga.

      Eliminar
    5. Confirmo.
      Mas as vezes pode não haver força para sair do sofá mas...
      "E isto faz toda a diferença." - sair do sofá. Os homens fazem melhor que as mulheres isso.

      Eliminar
    6. Alexandra, eu não me referia à cena do corpo, mas a, num momento mau, não optarmos por ficar num sofá e sim por fazer algo que gostemos de fazer. Porém, para não fugir à cena do corpo, devo dizer que o exercício é um bom ansiolítico, e já o fiz com esse objectivo (correr à beira mar, por exemplo, faz-me bem); o sexo, e penso que se referia a isso, nunca foi algo a que eu recorresse com esse objectivo, embora não possa negar que tem esse efeito. Em todo o caso, são processos que a Biologia explica muito bem.

      Eliminar
  2. Concordo. Confirmo. Mas mesmo havendo prazenteira, pode ser irritante saber que não se enchutou a ansiedade...como se não estivessemos a aproveitar plenamente a coisa que nós dá prazer...e daí fica tudo plof...

    Cumprimentos
    HT

    ResponderEliminar
  3. Filipe, Carlos,

    Às vezes são ligeiramente aborrecidos, vejamos, como quem fala de Métodos e Técnicas, etc.

    A minha conversa era (é) muito mais simples. O(s) blogue(s), por exemplo, senhores. Quais rosas, quais quê.

    Quanto ao resto, caminhadas (as minhas situações de carácter mais ansiógeno, hoje em dia, passam pelo local de desemprego do dia, como costumo chamar-lhe, pelo que um passeio higiénico pelo exterior pode fazer milagres; de resto, a envolvência verde e oxigenada chama por si). Noutros contextos de ansiedade, respiração controlada, por exemplo.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.