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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Nos teus olhos


Olham-nos como  se lhes devessemos  dinheiro, escreveu  Ruark a propósito do cafre  da foto. Lembro-me sempre desta tirada de Ruark ( até porque o leio  vezes sem conta) quando mergulho vestido  nas novas configurações amorosas em tempos  de sms e redes sociais. Tenho conhecido namorados que  discutem por sms, casais separados que  se insultam por facebook, amantes que se conhecem por email. Tudo sem olhar.
Tenho sobre o olhar interessado de uma mulher a mesma  opinião que Paul Valery tinha sobre a obra prima literária:  qu'il est du tout impossible  d'y rien changer. Síntese  à parte, a ausência do olhar significa, claro, mais coisas.  Tomemos , por exemplo, um Queres ir jantar hoje?/ Não posso/ Está bem então. Ela não o vê a conformar-se e pode entender desinteresse onde talvez haja tristeza  e decepção. E por aí adiante.
 Os  engates na net equivalem aos olhares trocados numa festa. Nos primeiros parece que estamos  a comprar cavalos - Quanto pesas ? Usas preservativo? O que tens vestido? - ou num concurso de TV - Qual o teu filme preferido? E a música? Onde trabalhas? 
Nos segundos, os resgatados à monotonia ( da solidão ou do esforço) falam uma língua universal sem dicionário.


5 comentários:

  1. Provavelmente é porque é mais fácil viver dramas passionais com máquinas.
    " A Arte de Viver é simplesmente a arte de Conviver...Simplesmente, disse eu? Mas como é difícil! (Mário Quintana)

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  2. embora o ruído nem sempre venha das "e-conversas". quem olha nem sempre vê.

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  3. Um post algo baralhado, os exemplos de certa forma atropelando-se (alimárias, escritores, olhares dialogantes, diálogos distantes), embora reste qualquer coisa - parece-me, leitora preguiçosa - da ideia subjacente.

    Depois da leitura (pela terceira ou quarta vez, leitora insistente) do post fiquei para aqui a pensar noutra questão que, eventualmente, é também uma das pontas soltas do seu texto: afinal, como é que podemos classificar a comunicação entre as pessoas (não me refiro exclusivamente aos afectos) abordando-a de um ponto de vista mais clássico? É que, nesta fase adiantada das 'redes sociais' (estou sempre a dizer e preciso de repetir, o que eu abomino esta expressão!), clássico mais clássico que as 'redes sociais' não há.

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  4. Caro FNV,
    a vida não é um sonho, mas é quase.

    Um vénia,
    K

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