Desenvolvendo um nadinha o que aqui se espraiou. Ainda que a associemos à adolescência ou início da vida adulta, a força da herança da colonização parental encontramo-la nas pessoas maduras, já pais e até avós.
Perdi a conta de maduros que atribuem à herança colonial familiar muitos dos seus problemas, incapacidades, revoltas interiores dilacerantes. Em muitos casos com boas razões para isso, mas não deixa de ser surpreendente a forma como essa atribuição passa um atestado de menoridade às suas vidas adultas. Vale isto para a herança colonial familiar como para as ondas de choque de episódios ditos traumatizantes.
Tento, sempre que sou chamado a ajudar, bater neste ponto: o que somos em adultos é da nossa responsabilidade. Claro que existem casos pontuais de terrível e imorredoira herança, mas são poucos. Na maior parte das vezes apenas arranjamos uma muleta mental que arquiva as nossas fraquezas no museu colonial.
isso das muletas.. são tretas, sabe bem disso. somos resultado daquilo que experienciamos. se podemos "descolonizar-nos" desse mau passado? podemos e devemos, mas as merdas ficam agarradas como uma segunda pele. a memória é tramada. tão tramada que a primeira coisa que me veio a cabeça quando li este post, foi o dia em parti a perna por ter caído de bicicleta, tinha 8 anos. ida ao hospital com a mãe, gesso na perna, regresso a casa onde o pai já estava - com o seu humor habitual. aquilo que foi um acidente rapidamente se transformou numa culpa com pratos de sopa a voar, berros e discussões. como ainda não há chip para filtrar memória, tenta-se fazer alguma coisa com o que sobrou e reinventamo-nos um pouco. não lhe chame fraquezas, porque é precisamente o contrário, é termos sobrevivido. e não sermos completamente flipados da cabeça.
ResponderEliminara memória é uma coisa, a descolonização parental é outra.
Eliminarfica para terceiro round, mas sou inflexível: exijo o direito à auto-determinação.
Um pouco sobre este assunto escrevi há uns tempos:
ResponderEliminarhttp://corta-fitas.blogs.sapo.pt/os-nossos-mortos-5771004
De resto desconfio que o conflito e a revolta não possuem obrigatoriamente ligação com factos, memórias, bons ou maus colonizadores. Talvez que se assim fora, no imediato o adeus ficasse facilitado. E depois, o lamber das feridas pode gangrenar a existência.
Abraço tipo Artur aos papéis.
Muitas pessoas têm medo de ser livres, sentem-se ansiosas e/ou inseguras - como dizia o outro, a liberdade é um mar tempestuoso.
ResponderEliminarBem, João, nem sempre estão...mortos ( o qu e por vezes difuculta as coisas) .
ResponderEliminarTens toda a razão, Filipe.
ResponderEliminarBom texto Filipe, acho que de facto temos uma liberdade enorme para decidir o que somos e fazemos em adultos (pelo menos maior do que aquela que pensamos ter). E aqui entro com a minha história: o meu avô paterno - que não cheguei a conhecer - era um homem violento em casa (estilo garrafas e cinzeiros a voar), algo do qual só me fui apercebendo ao longo dos anos por desabafos muito esporádicos do meu Pai e da minha Avó. Hoje percebo que uma das grandes linhas de força (talvez a maior) da educação que eu e o meu irmão recebemos dele, foi a de rigor sem violência. Lá está, acho que soube "desaprender" a pior parte da educação que recebeu...
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