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terça-feira, 2 de setembro de 2014

Ainda a colonização parental


Desenvolvendo um nadinha o que aqui se espraiou. Ainda que a associemos  à adolescência ou início da vida adulta, a força  da herança da colonização parental encontramo-la nas pessoas maduras, já pais e até avós.
Perdi a conta de maduros que atribuem à herança colonial familiar muitos dos seus problemas, incapacidades, revoltas interiores dilacerantes. Em muitos casos com boas razões para isso, mas não deixa de ser surpreendente a forma como essa atribuição passa um atestado de menoridade às suas vidas adultas. Vale isto para a herança colonial familiar como para as ondas de choque de episódios ditos traumatizantes.
Tento, sempre  que sou chamado a ajudar, bater neste ponto: o que somos em adultos é da nossa responsabilidade. Claro que existem casos pontuais de terrível e imorredoira herança, mas são poucos. Na maior parte das vezes apenas arranjamos uma muleta mental que arquiva as  nossas fraquezas no museu colonial.

7 comentários:

  1. isso das muletas.. são tretas, sabe bem disso. somos resultado daquilo que experienciamos. se podemos "descolonizar-nos" desse mau passado? podemos e devemos, mas as merdas ficam agarradas como uma segunda pele. a memória é tramada. tão tramada que a primeira coisa que me veio a cabeça quando li este post, foi o dia em parti a perna por ter caído de bicicleta, tinha 8 anos. ida ao hospital com a mãe, gesso na perna, regresso a casa onde o pai já estava - com o seu humor habitual. aquilo que foi um acidente rapidamente se transformou numa culpa com pratos de sopa a voar, berros e discussões. como ainda não há chip para filtrar memória, tenta-se fazer alguma coisa com o que sobrou e reinventamo-nos um pouco. não lhe chame fraquezas, porque é precisamente o contrário, é termos sobrevivido. e não sermos completamente flipados da cabeça.

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    1. a memória é uma coisa, a descolonização parental é outra.
      fica para terceiro round, mas sou inflexível: exijo o direito à auto-determinação.

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  2. Um pouco sobre este assunto escrevi há uns tempos:
    http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/os-nossos-mortos-5771004

    De resto desconfio que o conflito e a revolta não possuem obrigatoriamente ligação com factos, memórias, bons ou maus colonizadores. Talvez que se assim fora, no imediato o adeus ficasse facilitado. E depois, o lamber das feridas pode gangrenar a existência.
    Abraço tipo Artur aos papéis.

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  3. Muitas pessoas têm medo de ser livres, sentem-se ansiosas e/ou inseguras - como dizia o outro, a liberdade é um mar tempestuoso.

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  4. Bem, João, nem sempre estão...mortos ( o qu e por vezes difuculta as coisas) .

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  5. Bom texto Filipe, acho que de facto temos uma liberdade enorme para decidir o que somos e fazemos em adultos (pelo menos maior do que aquela que pensamos ter). E aqui entro com a minha história: o meu avô paterno - que não cheguei a conhecer - era um homem violento em casa (estilo garrafas e cinzeiros a voar), algo do qual só me fui apercebendo ao longo dos anos por desabafos muito esporádicos do meu Pai e da minha Avó. Hoje percebo que uma das grandes linhas de força (talvez a maior) da educação que eu e o meu irmão recebemos dele, foi a de rigor sem violência. Lá está, acho que soube "desaprender" a pior parte da educação que recebeu...

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