Somos capazes de mentir descaradamente, somos capazes de nos masturbar, somos capazes de torcer pelo Sporting contra o FCP, mas não somos capazes de controlar uma crise de ansiedade e o seu valete, o ataque de pânico. Está por fazer um bom estudo filosófico sobre a relação entre as alterações culturais dos últimos 50 anos ( cultura ado, diminuição da natalidade) e dos últimos 150 (materialização da felicidade e síndroma madame Bovary) , que possa explicar esta incapacidade crescente.
Não, não falo das tretas do Lipovetsky ( prefiro um único e... famoso verso do Larkin) e da Himmelfarb. O velho Freud andou lá perto, porque ganhou a vida na alta sociedade vienense e por isso soube de coisas meio século antes.
O primeiro antidepressivo do grupo dos inibidores da monoamina oxidase, a iproniazida , foi originalmente desenvolvido contra a tuberculose. Foi abandonado por incidência hepática mas também porque os doentes ficavam muito, digamos, excitados. O fundo ansioso e fóbico da depressão existencial ( por oposição à endógena) teve a sua primeira resposta com a iproniazida em meados dos anos 50. Bate certo: os achaques da freudiana sociedade vienense demoraram meio século a popularizar-se.
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