A série, entre outras vitualhas, serve-nos um curso inteiro sobre a ruptura amorosa. Não sei se
a minha guru das ( boas) séries já viu a coisa sob esta prisma, como dizem os autarcas, mas arrisco a repetição.
Quando a série começa, o par Walter/Skyle tem cerca de 16 anos de vida em comum, um filho com deficiência física e uma vida pacata. Depois o homem ganha um cancro mortal e a mulher engravida. O casamento sobrevive e melhora. É então que Walter se torna um druglord das anfetaminas e a ruptura , ou melhor, as rupturas, se instalam. Em pizzicato.
Skyler, um papel fabuloso, do melhor que já vi, representa a mulher inteira e quase-honesta, mas, sobretudo, a mulher de fibra, a anti-donzela: não se queixa e ninguém a pisa. É uma combinação encantadora. A sua principal nemesis é a segurança dos filhos. Quando compreende o verdadeiro alcance das actividades do marido, agita-se. A traição de Walter, a sua vida dupla, não é com uma mulher, é com a segurança. Os milhões e as mentiras são o bilhete para Walter ver Skyler enrolar-se com o antigo patrão.
Mais tarde, a ruptura entra numa nova fase. Walter promete emendar-se e Skyler aceita. O cliché da reconciliação é subvertido: fica-se com o dinheiro e com a segurança. Skyler ajuda na lavagem do dinheiro. O problema é que as coisas são o que são e Walter retoma a actividade, ou melhor, as consequências da actividade. Não foi infectado pelo HIV nem engravidou a amante, apenas teve de desatar a matar ex-cúmplices, é perseguido pelo cunhado, da DEA, etc. Skyler, agora anti-Medeia, prefere os filhos e a ruptura não tem retorno. O confronto físico final entre os dois não conta muito, mas a despedida, sim: Walter assume que tudo que fez não foi, afinal, pela família, mas por ele e para ele.
Este curso geral da ruptura amorosa mostra que, num casamento - tradicional e com filhos - as prioridades políticas são negociáveis apenas até um certo ponto. Walter e Skyle têm uma base irredutível, nacionalista, que os afastará sem remédio. O truque, se é que existe, é nunca ter de chegar a negociar a base.