No tratamento das depressões, a inércia é um adversário de calibre, sobretudo no quadro da depressão ansiosa ( que este pequeno resumo generalista sintetiza). Os antidepressivos, mesmo os da nova geração, não eliminam o problema. A moleza e a desmotivação, para usar termos simples, variam , claro, consoante as condições do doente. O desemprego, o divórcio e a perda são os principais contribuintes.
As ideias: "não se é capaz de fazer nada", "está-se muito cansado", "nada vale a pena". Dito assim, parece um estribilho depressivo simples, mas o problema é que muitas vezes estas ideias são construções obsessivas. Este artigo, como muitos, inverte o jogo: analisa a depressão como efeito da desordem obsessiva. O meu tabuleiro aqui é ao contrário: a ideia obsessiva como subproduto do estado depressivo.
O doente convence-se de que nada pode fazer, ou porque não sabe ou porque não adianta. Esta construção irracional é desmentida muitas vezes pela realidade. Até trabalha, até é bom no que faz, até cuida dos filhos, até tem bom sexo. Tudo em menor quantidade, claro, mas tudo está presente. A ideia obsessiva resulta do estado depressivo nestes sujeitos particulares, porque são sujeitos que reagem de uma forma muito particular à depressão. São sujeitos que, por variadíssimas razões, não se sentem à altura da depressão.
O essencial nestes casos é dar vantagem ao estado depressivo. Parece bizarro, eu sei, mas a tristeza é racional, a obsessão não. Uma técnica que costumo utilizar é a de ajustar a baixa expectativa: quanto menos a pessoa se exigir ( não faltar ao trabalho, agradar-se quando em vez etc), menos combustível tem o motor obsessivo.
"Até trabalha, até é bom no que faz, até cuida dos filhos, até tem bom sexo. Tudo em menor quantidade, claro, mas tudo está presente."
ResponderEliminaraté consegue fazer qualquer coisita. não será antes uma percepção - bem - racional de que está só pelo "até"?