Perguntam-me muitas vezes: Como lida o psicoterapeuta com problemas iguais aos das pessoas que nele confiam? Casa de ferreiro, espeto de pau? É óbvio que cada profissional fala por si, por isso a resposta é individual.
A minha linha de trabalho é sempre a autonomia do sujeito. Seja num luto, numa separação, numa questão laboral, no amor etc. A saúde mental, do meu ponto de vista, exige capacidade de nos aturarmos. A partir daí muita coisa se pode construir.
Somos animais contraditórios. O leão não hesita sobre a zebra nem o atum sobre o cardume de sardinhas. A ambivalência - onde cabe o remorso, a culpa e o sentido de justiça - é a base da autonomia: é o tiro de partida para a compreensão de que, em última análise, temos sempre uma opção. Os outros, a infância e os males do mundo são inocentes na nossa solidão.
Na minha vida, repleta de asneiras, o que a maturidade me trouxe foi a autonomia. Escolho, decido e sinto em função da liberdade de poder optar por outras escolhas. Assim, só os deuses e o destino são meus senhores.