O espaço terapêutico, como o entendo, é radicularmente democrático. De raiz e de demo, que não quer dizer povo mas lugar onde se nasce/vive. A democracia foi feita contra a monarquia, levando ao recenseamento dos que viviam em Atenas ( e no resto da Ática), para garantir que a linhagem mais forte não dominasse a cidade. Na terapia existem dois demos: o meu e o do outro.
Ambos assumem igual importância no desenrolar dos trabalhos. Distancio-me assim da figura demiúrgica. Seja a do psicanalista armado do seu mambo-jambo palavroso, seja a do psiquiatra e da sua colecção de amuletos e beberagens. Só entendo a terapia num quadro de igualdade, se quiserem, de isocracia : igual acesso ao poder de transformar o estado de coisas.
Não sigo nenhuma escola holística de como deve ser a saúde mental e emocional, não aplico métodos universais. O respeito por quem tenho diante de mim, e pela sua fala, implica uma adaptação a cada caso.
A minha responsabilidade é batida na experiência de muitos anos com a intimidade dos humanos. É esse o meu trabalho: colocar à disposiçao de quem tenho de ajudar uma parafernália de problemas e soluções imperfeitas. Examiná-las, debater com a pessoa o caminho do bosque.
Isso é tudo muito bonito, mas se não há mambo-jambo acho mal.
ResponderEliminareheheheheh é o hábito....
EliminarDando como exemplo o meu caso, a estratégia do psi foi/é esta: emprestar-me as pedrinhas para ir deixando um trilho que me permita, depois de me embrenhar no bosque, regressar a casa. Num diálogo democrático foi-me dado a escolher a cor das pedras, não tive a opção de escolher migalhinhas de pão ou bagos de arroz…
ResponderEliminarO que aprendi: i) continuar a andar, percorrer o caminho, ainda que só haja um (pois pode não existir alternativa e é importante que alguém me entenda quanto a isto); ii) fazer com que valha a pena voltar para casa, por muito que o bosque cresça e invada quase tudo; iii) aproveitar para respirar nas clareiras; iv) fazer o caminho de regresso, sempre.
Os caminhos do bosque são um segredo dos lenhadores, uma velha regra heideggeriana...
EliminarSem dúvida que tenho aprendido muito consigo nos últimos anos. Apesar de todas as dúvidas, avanços e recuos.... nada como as suas questões, conselhos, sugestões e disponibilidade. Obrigada por isso.
ResponderEliminarP.
ora essa,, eu é que agradeço de cada vez que no caminho me calham pessoas não-mimadas e que não desprezam o caminho do bosque.
EliminarO caminho do bosque é uma bela metáfora. e gostei imenso do relato do que aprendeu o anónimo ali de cima.
ResponderEliminarJá quanto a não encerrar pessoas em categorias,por mais confortável que possa ser, também é controlador, castrador, mesmo que padeçamos de neuroses semelhantes, a grande valia da terapia é a individualidade e o respetivo tratamento individual. eu não levaria a sério um terapeuta que me viesse catalogar, é como se não me quisesse mais ouvir... :)