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quarta-feira, 3 de julho de 2013

A única coisa



    






 Na sequência da discussão anterior, o que se pode opor à perda de lei ( o nosso amor, um filho, um pai querido etc)? Tanto quanto sei hoje, misturando a experiência pessoal, a profissional e as leituras, só existe uma coisa. Uma única coisa.
Recapitulemos. As grandes perdas são  histórias de destruição natural, como as de Sebald, Arrasam planos, esperanças, sim, mas também a vontade e o quotidiano. Um pouco como um avião que nos leva para um fuso horário desconhecido, num descampado onde até as nossas mãos não parecem nossas. Basta sentar-mo-nos à mesa, à hora habitual, e olhar para  a cadeira agora vazia: jet lag demoníaco.
A rotina é uma aliada. Como nas cidades destruídas, reerguer as paredes, limpar um poço, procurar batatas velhas. Ou seja, levantar cedo, ir trabalhar, suportar  o trânsito. Não chega, essa pele fina de normalidade.
A unica coisa com potencial  equivalente à destruição é a criação. John só muito tarde percebe o que é o  grande malogro -  "não ser nada" -  quando Mary morre finalmente. A Fera na Selva  vale por uma enciclopédia de psicologia, porque mostra o axioma numa cronologia contrariada.
E o   que é criar por oposição  a perder? É pintar, escrever, ler, plantar, fazer um amigo, arranjar um amante, ter um filho, enfim, fazer de novo. Só assim a perda se integra e  ocupa o seu lugar na ordem natural das coisas.


4 comentários:

  1. Penso que quer referir-se à recriação, que nisto é mais exactamente sujeitos que objectos.

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  2. Não, É criar mesmo.Somos todos semi-deuses.

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  3. Isso é uma ilusão, Filipe.

    E outra coisa, por que razão não diz o nome dos seus interlocutores? (isto faz-me confusão, em qualquer circunstância).

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  4. Nomes? Não posso, nem quero, nem é necessário, revelar nomes.

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