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domingo, 21 de julho de 2013
SPT sem você
Bonanno diz que as coisas más acontecem. Já aqui andei de volta do osso, não regressarei à resilência ( essa adaptação anglo-saxónica de estofo), interessa-me mais o célebre Sindroma Pós-Traumático.
Quando era miúdo, via Henrique Galvão , fascinei-me com o país pequeno e pobre que manteve uma guerra em três frentes africanas. Não compreendia. Depois fui coleccionando material ( algum não publicado, porque o meu sogro era ocoronel), fui fazendo a minha formação política ( comparei com a guerra da Argélia, por ex.)e percebi que não foi bem uma guerra como Tucídides me ensinava: a esmagora maioria dos soldados só queria estar sossegado.
Mais tarde, quando fiz o serviço militar, esta ideia foi-me confimadíssima por muitos veteranos. Muito mais tarde, como profissional, fui coleccionando histórias de ex combatentes em África. Juntando a minha experiência (a morte de um filho e mais um susto especial ) à deles, percebi que o SPT é muito mais do que apenas uma má recordação.
Bonanno compara tudo: perdas de filhos e de amores, acidentes de viação, guerra do Vietname e do Afeganistão. A teoria, que já aqui trouxe, é a mesma, mas com uma pitada de Nietzsche : ao SPT escapam as personalidades equlibradas e previamente fortes, às quais a pancada torna ainda mais fortes. O SPT tem outras bordas e há uma que me interessa particularmente.
Não é tanto a recordação, ou o peso do episódio, que faz com que a pessoa se vá abaixo. Existe um problema ontológico.O veterano do norte de Angola, por exemplo, acha que ter lá estado deu-lhe cabo da vida. Mais do que a memória das picadas traiçoeiras e dos camaradas esventrados, o que ele queria era não ter lá estado.
O SPT encobre a dificuldade em aceitar uma parte da nossa vida. Nem tudo são rugas que se resolvem numa ida à clínica de estética.
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Eu costumo dizer, que deveria existir morfina para as "feridas" da alma e não anti-depressivos, ou anti-psicóticos.
ResponderEliminarNão basta falar sobre as coisas, não basta tentar esquecer as coisas, precisamos de anestesia e morfina, para esquecer e deixar de sentir.
Alguém que saiba arranjar essa fórmula? Eu seria a primeira cobaia, com toda a certeza.
O Freud dizia que havia 3 remedios: as satisfações substitutivas, as grandes diversões e os...estupefacientes. Estes últimos eram os mais perigosos porque tornavam-nos insensíveis à nossa miséria.
EliminarE não é essa a cura?! A tão moderna e falada resiliência na psicologia?
EliminarSe formos insensíveis, positivos e fortes, somos sempre mais capazes, pois o excesso de sensibilidade só nos prejudica e torna mais fracos e incapazes.
Para que serve a sensibilidade então, para nos fazer sofrer?
Realmente os estupefacientes são perigosos, concordo com essa afirmação de que nos tornam mais insensíveis, então para que nos receitam calmantes e anti-depressivos?
Para deixarmos de sentir?!
Deixarmos de ser nós?!
Deixarmos de ser sensíveis e fracos?!
Para que servem tantos ansiolíticos e anti-depressivos, cada vez mais vendidos em Portugal e no mundo?!
Será que se tornaram o ópio do povo?
Que tristeza depender de um comprimido, ou remédio, ou droga, ou o que quer que seja, para se poder sobreviver neste mundo.
Freud dependia das respostas com sexo para tudo, outros dependem de respostas com drogas ilegais e medicamentos legais para tudo... e você que aparentemente é psicólogo, de que dependem as suas respostas?
Qual é a sua pílula da felicidade para sobrevivermos neste mundo e vida tão injusto e cruel aos olhos de alguns?
O SPT é uma grande ilusão, de facto, Filipe. Não fui verificar (oh preguiçosa), mas faça mais posts sobre o segredo do amor e isto vai lá. Colectiva. Mente. A quantidade (noutras circunstâncias de avaliação, blherg!) de avaliadores fala por si.
ResponderEliminarPor obra de não ter que les de momento, vim casualmente parar aqui e deparei-me com
ResponderEliminarFNV que num anterior blog (já me esqueci do nome) eu visitava e no qual dedicava-se deliciosamente a escrever contra a droga de Sócrates.
Agora, talvez para desviar-se de conversas desagradáveis, fala dos combatentes na guerra de África. Percebo que segundo FNV todo combatente sofre de um certo SPT: mesmo os que não o declaram sofrem do mesmo sindroma sob a forma ontológica (ontológica?) de que o que qeria era "não ter lá estado".
Além de impressões criadoras de preconceitos em que fundamentação se baseia FNV? Por acaso, se quiser, pode vir fazer-me um exame psicológico freudiano ou de psicanálise pós-moderna ou o que queira e depois faça-me ver que no fundo o que eu trago comigo é um SPT porque o que queria era "não ter lá estado".
Caro, ninguém quer estar numa guerra, porque ninguém gosta de correr perigo de morte e muito menos numa guerra onde isso pode ocorrer 28 meses 24 horas sobre 24 horas como foi o meu caso e dos meus camaradas. Todos somos ontologicamente guiados por pensamentos e por tal também de medo e muito medo depois de ver homens saudáveis e de repente olhar para o lado e ver cadáveres.
Contudo "não querer estar lá" pelo diálogo interno sobre os riscos de morte iminente e permanente a que estamos sujeitos, não impõe que sejamos, para o resto da vida, portadores de um qualquer SPT que os psicólogos (os leitores encartados do pensamento alheio), inventem e lhes ponham em cima como uma canga.
Não escrevi contra a droga de Sócrates: se está a falar de política de drogas, foi o único político que fez coisas acertadas. Tiro ao lado.
EliminarQuanto ao resto, muito fel e pouco lastro.
Boa continuação.
todas sao perdas, todas sao traumas.
ResponderEliminarno caso das perdas incomensuraveis (uma relacao falhada, por exemplo), mais facilmente a reaccao será doentia do que uma morte dum ente querido?
aí nao haverá como 'nao querer la ter estado', se bem que pode haver lugar a inumeros lamentos. esses outros, entregam-se ao tempo como o povo recomenda?