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terça-feira, 11 de março de 2014
Arquivos
Não podemos viajar em terras que não tenham arquivos, dizia Gasset ( em La Teologia de Renán), o filósofo vive entre as coisas que se diz terem morrido. Com o tempo, fui-me especializando nos arquivos das vidas das pessoas. E que coisas lá há...
Não me interessa a pantomina psicanalítica, cheia de jargão vazio e que faz dos arquivos um funeral da autonomia do sujeito à mercê das explicações do lançador de búzios atrás do divã. Interessa-me o que lá está enquanto parte viva e plenamente consciente do sujeito. Ou seja, interessa-me como é usado o arquivo.
No outro dia, uma mulher acabou por me dizer: Não gosto do meu pai. Deve haver poucas coisas mais difíceis de dizer sobre os vivos, precisou de grande coragem. Ela não usa o arquivo como depósito de material acusatório, antes como elemento estruturador da sua identidade. É a filha que não gosta do pai, a filha que guarda uma coisa que se diz ter morrido.
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A explicação (com ou sem pantomina) não pode ter efeito terapêutico?
ResponderEliminarNão falei da "explicação".
EliminarA questão que coloquei é a mesma que coloco sempre à psicanálise (assumindo aqui uma "unidade" de escola), aos lançadores de búzios. Está tudo "lá", no arquivo? Para quê esta mística da descoberta da explicação-segredo? Para quê o afã de explicar? Mas, como sempre, o Filipe faz-me pensar, repensar, pensar. Trata-se do "uso" do arquivo, pois.
EliminarExactamente porque não há explicação/revelação.
EliminarO arquivo pode apenas ser melhor ordenado, posso ajudar alguém a ter a coragem de o usar...
Caro Filipe, essa mulher é quase como eu: por pretexto tributário, acabei por dizer à minha mãe que filho dela foi sempre a minha tia mais nova que ela carregou de bom grado ao colo desde os seus 8 anos até hoje, volvidas quase 6 décadas; pois filho não é quem consta do BI ou do CC, nem peso fortuito que seja fruto colateral de casamento azarado: é quem se leva ao colo sem dúvida ou hesitação, apesar e contra todas as circunstâncias do mundo e da vida.
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