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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Breaking bad

Pausa para Natal e para tentar publicar o livro de histórias de violência sobre mulheres.
Adeus e até ao meu regresso.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Manual de autodestruição (59)

Por vezes sinto-me triste sem motivo. Ou porque chove ou porque faz sol. Não me limita, faço a minha vida, mas é triste. Gostava de ser alegre.

Eu gostava de ter sido diestro.  A última vez que me viram  chorar  foi há dez anos, em Palência, com um pase de rodlillas com que o El Juli recebeu o touro na saída da faena.
Uma coisa é certa: estás livre da depressão.

Depressão colectiva

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Talvez

Está pronto o que pode ser mais um livro. Não, não é o manual de autodestruição. É sobre mulheres, as que morrem que nem tordos. Se sempre houver edição dou-vos notícia.

Manual de autodestruição (58)

Como é que se conquista a  felicidade? Tantas receitas, nenhuma me serve.

O olor da sopa que estou  a fazer chega  cá acima ao meu covil. Nabos, cenoura, cebola, abóbora, azeite, um toque de alho e carqueja. Está sol, o Benfica ganhou, os meus estão vivos ( a esta hora...).
Para alguém mais  sofisticado recomendo aqueles manuais de autoajuda.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Manual de autodestruição (57)

A ansiedade devora-me. É um bocado dramático, mas é assim que me sinto. Às vezes  estou bem, mas ela chega e toma conta de mim. Até penso que me vai dar alguma coisa.

A tua cabeça convenceu-se de que o perigo espreita. É um facto: atropelamentos, AVC's etc.
O que não espreita está já contigo e mais próximo: o trabalho, o trânsito, a falta de dinheiro, as zangas familiares, a solidão. Quando tiveres coragem de enfrentar  estas coisas, comes o  perigo ao pequeno-almoço.




segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Manual de autodestruição ( 56)

À medida que envelheço, o tempo passa mais depressa. É insuportável. O que fazer?

Nos depósitos de seres idosos, o tempo passa muito devagar. Dizem-me eles que contam os dias para visita semanal  dos filhos. 
Se ainda não estás para isso, pensa no tempo que te falta como uma graça.  Vai frequentar uma sessão de quimioterapia.  Encontra um condenado e faz a tua queixa. Depois diz-me o que te responderam.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Manual de autodestruição (55)

Não consigo entender que uma mulher se dedique a ser acompanhante de luxo. É uma hipocrisia, um eufemismo  asqueroso.

Pois  acho que é uma magnífica profissão. Há uns anos, uma dessas profissionais recorreu aos meus  modestos serviços.  Sem clichés: discretíssima, suave, altamente  cultivada. Fazia o que gostava, ganhava cerca de  seis  mil euros /mês limpos ( o que o Ronaldo faz em duas horas) e escolhia os clientes.
Não há eufemismo nem hipocrisia: as coisas são o que são. Um bom serviço, o retorno merecido. Sem promessas nem ilusões. Precisou de ajuda porque  se apaixonou, o que colocou em causa a profissão. Bem vistas as coisas, podia ser psicóloga.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Manual de autodestruição (54)

Os velhos quando morrem, enfim, já esperamos, é a ordem  natural das coisas.  Só me preocupa a morte dos novos.


Qualquer morte pisa, roubando a expressão a Blanchot, um sol guerrier: solo marcial, chão de guerra. És, portanto, um burocrata da morte. Ocupas-te de prazos vencidos e prescrições.
Que a vida te seja mais do que um requerimento, é o que desejo.

domingo, 13 de novembro de 2016

Manual de autodestruição (53)

Apetece-me desaparecer. Para um lugar  em  que não me conheçam, mas onde  reconheçam o meu valor.

O útero da mãezinha. Sendo matematicamente impossível,  recomendo outro sítio em que não te conheçam reconhecendo-te: o teu umbigo.
Também podes crescer, claro, mas dá mais trabalho e ninguém te limpa o rabinho.


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Manual de autodestruição ( 51)

Esforço-me, mas há sempre qualquer coisa que falha. Pegam comigo por causa disso. São detalhes, mas não me perdoam.

Durante  a insurgência Mau-Mau , no Quénia, os ingleses ( do King African Rifles) experimentaram uma unidade de pseudos. Alguns kikuyu e wa-wakamba misturados com colonos brancos. Todos imitavam o estilo mau-mau. Passavam horas à fogueira para adquirir o aroma,  armavam o cabelo, não tomavam banho durante dias. Os brancos pintavam a cara e o  corpo com graxa. 
Um dia, um dos brancos  infiltrados saiu de uma palhota, cheia  de Mau-Mau e armas, para ir verter águas. Estava muito descansado a fazer o serviço quando olhou para baixo  e notou  que se tinha esquecido de camuflar uma única parte da sua anatomia. Escapou, mas relatando o episódio foi multado pelo oficial.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Manual de autodestruição (50)

Não tiro lições nenhumas da vida. Muitas vezes esforço-me e falho. Julgo que aprendi  e volto a falhar.

Na Dinamarca,  os miúdos estão a meio da aula e dizem que querem sair para ir brincar. E vão . A  mim acontecia-me uma coisa parecida com imensa frequência, mas  o encarregado de educação, estranhamente, ficava a saber.
O problema  é que  a vida não é o modelo de educação dinamarquês. Seja como for, evitar  repetir as palavras do condenado ao subir para  o cadafalso: "Tudo isto foi uma excelente lição para mim".

sábado, 5 de novembro de 2016

Manual de autodestruição (49)

Dei-lhe tudo e agora faz-me isto. Deixa-me.  Como é possível?

Dar tudo e a uma só pessoa? É uma ditadura  doce, deparaste com  uma pequena revolução.


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Manual de autodestruição (48)

As pessoas são más, esta é a verdade. Tenho de saber viver num mundo assim? Porquê?

Se assim fosse seria simples. Os maus de um lado e tu do outro. Já terias aprendido há muito, a menos que a inteligência não te visite.
A alternativa é meter uma cunha ao Papa, mas  a canonização é um processo longo.

sábado, 29 de outubro de 2016

Manual de autodestruição (47)

A minha  insatisfação  é permanente, as coisas como estão não me servem.

Óptimo. Um bom treino para o cancro do pâncreas ou para a esclerose  lateral amiotrófica.
Claro que na minha modesta opinião devias talvez aproveitar a pré-época.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Manual de autodestruição ( 46)

A ambição é o que me norteia. Só se vive uma vez. Quero tudo a que tenho direito.

Terás o grande final a que todos temos direito, certinho, mas vamos aos por enquantos:
A vida tem mais interesse quando temos aquilo a que não julgamos ter direito. Por exemplo, uma ajuda inesperada.
Quanto ao James Bond, troca-o pelo Ajax: menos martini, mais azeitona.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Manual de autodestruição (45)

Não preciso de ajuda. Os psis são todos  uns charlatões  que nos esvaziam os bolsos aproveitando-se da nossa desgraça.

Tanta coisa que importámos da África no contexto  da reabilitação pós-colonial - os batuques, os narizes furados, as rastas - , por que haveríamos  de deixar de fora as coisas boas?
Quanto à tua desgraça, podes sempre gozá-la sozinho: é mais económico.





segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Manual de autodestruição ( 44)

Olho para trás e sinto que desperdicei a minha vida. Não fiz nada do queria fazer. É uma tristeza.

Um Nobel da Química para ti. Quarenta ou cinquenta anos a conseguir não fazer o que querias é obra.
Resta-te viver como os macrobianos de mil anos antes de Cristo e tomar banho na água leve. Chegarás aos cento e cinquenta anos. Talvez então consigas fazer alguma coisa.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Manual de autodestruição ( 43)

Ela  diz que eu falo pouco ou nada. E que  não a ouço. O que é que há para falar e ouvir  ? Um gajo chega cansado, quer é sossego.

Tretas. Se te a puserem no colo falas que nem um papagaio e escutas como um padre.
Este tipo ( e a sua equipa) já explicaram há muito: a fala é o laço. Daí que das duas uma: ou a tens como garantida ou já não lhe ligas pevide. Na volta é igual.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Manual de autodestruição ( 42)

Não me venham com tretas. Envelhecer é uma desgraça. Tudo diminui menos as doenças.

Bem, seria interessante que Deus ou Marx tivessem desenhado o corpo humano a melhorar de dia para dia até ao funeral. Não se lhes alembrou.
Por outro lado, é desconsolante que desprezes anos de sabedoria aprendida na única vida que te deram.

domingo, 16 de outubro de 2016

Manual de autodestruição (41)

Tenho de cultivar o sentido prático. As coisas são o que são, o que há é o que há. Não adianta sonhar.

Isso  de certeza. Sonhos  cultuam aldrabões freudianos ou os versos do  Gedeão.
Um brutal espinho: se não tiveres um sítio onde possas fugir à realidade, como é que  a reconheces?

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Manual de autodestruição ( 40)

Não consigo ultrapassar os traumas do passado.

Para além de alimentar toda a psicanálise e  a má psicologia, não bispo outra vantagem.
Ajudei uma senhora que foi violada  pelo pai ( a irmã até engravidou). Casou, trabalha, tem duas filhas. Agora só a vejo quando ela anda mais nervosita. Traz-me broa caseira.

Manual de autodestruição (39)

Não me dou com o meu filho. É terrível,  é a negação dos nossos papéis.

Não: é a confirmação deles. Quando crescem, escolhemos todos. 
Os filhos crescidos são amigos de longa data: pode crescer também a cizânia, como em qualquer amizade.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Manual de autodestruição (38)

Numa relação tem de haver confiança. Não posso confiar em que não me diz a verdade.

Vives na Terra do Nunca. Não será mau.
Mentimos em tudo menos no amor, não é?

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Manual de autodestruição (37)

Se é para fazer, era  para ontem. Não aturo procrastinação.

Lamento. Queres cremação ou enterro?

Manual de autodestruição (36)

Procuro respostas no passado, mas não as encontro.

Claro. O passado faz  perguntas. É um velho amigo que nos conhece bem.
Queres respostas? Encosta  um búzio ao ouvido.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Manual de autodestruição (35)

A desmotivação é total, só me apetece desaparecer deste mundo.

Quem te garante que não levas esse spleen para o  outro mundo? 
Desiste deste  mundo, mas cria o teu.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Manual de autodestruição (34)

Magoei-me, não quero magoar-me outra vez. Não quero conhecer ninguém, quero sossego.

A reserva tem dois  objectivos bem distintos.  Por um lado, prolongar e continuar o combate; por outro, a utilização em acontecimentos imprevistos ( Livro 3, cap XIII).
Assim sendo, procura bem e dá-lhe uso. À reserva.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Manual de autodestruição ( 33)

Odeio todas as religiões, são um cancro da humanidade. Só acredito no  Homem.

A sério? Pergunto-me se imaginas que foram  os mosquitos a criá-las.

Manual de autodestruição (32)

Sou muito modesto. Todos deviam ser assim.

Vá lá, podia dar-te para pior. 
Fico aliviado sempre que os pequenos chefes  são brandos.

sábado, 1 de outubro de 2016

Manual de autodestruição (31)

A esperança é uma mentira.  Por mais que tente, não consigo acreditar  que vou dar a volta.

Calma. Há uma hipótese de  hope, esperança, vir do antigo germânico escandinavo  hoppa, saltar.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Manual de autodestruição (30)

As relações amorosas são complexas, tenho de as trabalhar,  isto não pode ser deixado ao acaso.

No final dos anos 20, Beryl Markham foi a primeira mulher  a usar a avioneta em exploração do mato ( Tanzânia)  para fins de safaris.  Perguntaram-lhe  por que se envolveu com  o barão Bror Blixen ( sim, o que foi  casado com a Karen Blixen,  née Dinesen, do África Minha). A resposta dela : We were alone in  elephant country...drinking champagne. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Manual de autodestruição (29)

Ninguém me compreende. Não entendem o que digo nem o que sinto.

7,125 bilhões de almas na Terra.  É obra, esse anacoretismo involuntário.
Tens de começar por algum lado: que tal por ti?






segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Manual de autodestruição (28)

Somos apenas amigos de sexos diferentes.  Não se passa mais nada, senão a amizade acabava.

Os estudiosos também acreditam. Ainda assim,  é notável  o amor ser o carrasco da amizade.


Manual de autodestruição ( 27 )

O sexo é rotineiro, já não há romance, assim não dá.

Compreendo. Uma vez  vi um homem pescar um peixe e deitá-lo ao rio.

Manual de autodestruição ( 26)

Os filhos modificam muito a vida do casal, ouvi uma psicóloga dizer na rádio. Não sei se estamos preparados.

A cautela é boa. O príncipe Bagration também era muito cauteloso, calculou que Davout lhe faria  a vida negra. Bem, arranja um par de cachorros. Pelo menos não terás de os levar à escola nem à psicóloga.

domingo, 25 de setembro de 2016

Manual de autodestruição ( 25)

Não tolero uma sucessão de dias maus, fico com a impressão de estar num poço de paredes lisas.

Mau, sem dúvida, mas  sabes assobiar? Às vezes os poços ficam ao pé de casas.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Manual de autodestruição ( 24)

Não quero compromissos, não quero ficar preso nem ter  desilusões.

Ora aí está um bom roteiro.
Também compreendes que nada defenderás, ninguém lutará por ti, não conseguirás distinguir a vitória da derrota.

domingo, 18 de setembro de 2016

Manual de autodestruição (23)

Deprimo com razão: não alcanço o que quero, não sei que rumo tomar.

Esta é mais difícil, concedo. Os saveiros abicavam ( na praia de Gaia, escrevia o Garret) e os homens tinham  direcção certa:  a ermida do santo.
À falta de ermida, atraca noutro porto: dos que precisam de ti.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Manual de autodestruição (22)

Ensino tudo  ao meu adolescente  sobre o  que é a vida, senão ele espalha-se.
És um sortudo: sabes da tua vida e de uma que ainda não aconteceu.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Manual de autodestruição ( 21)

Quero muito  ser feliz, nem que para isso tenha de sofrer.
Seria talvez preferível não te esforçares para ser  infeliz, mas tu lá sabes.

Manual de autodestruição ( 20)

Os meus medos são irracionais, são produto da minha cabeça.
Palavra? Uma bela contradição.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Manual de autodestruição ( 19)

A distância não é relevante: o que conta é o amor.
 Bem, se já estão separados não se podem separar.

Manual de autodestruição (18)

A idade  não importa, o que   interessa é manter a mente jovem.
Talvez estejas  a pedir demais às  plásticas e a toxina botulínica.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Manual de autodestruição ( 17)

Corta  a direito, não te desvies, não cedas nos princípios.
Se deparares com uma estrada sem saída, e há muitas, pede boleia.

Manual de autodestruição ( 16)

O mundo não te compreende: os filhos, os amigos, os empregados, os patrões, os polícias, os padres, o marido, a mulher.  Não fazem o esforço de entender o que dizes.
Experimenta aprender uma língua nova.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Manual de autodestruição ( 15)

Persegue  a felicidade e a  autorealização. Com intensidade, agarra-as bem, não as deixes escapar.
Ficas com as mãos ocupadas, mas podes sempre beber pela palhinha.

domingo, 4 de setembro de 2016

Manual de autodestruição ( 14)

Define limites estreitos, direcções seguras, procedimentos  sólidos. Não te desvies um milímetro.
Serás um Bab-el-Mandab humano, um Portão das Lágrimas.

Manual de autodestruição ( 13)

Escolhe um amigo compreensivo, sempre presente,  com os mesmos gostos e necessidades, de lealdade  absoluta.
Se não encontrares nenhum, forra a casa com espelhos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Manual de autodestruição ( 12)

Revolta-te. As redes sociais destruiram  a privacidade, é uma vergonha, este mundo caminha para o fim, é a desgraça.
No antigamente a privacidade era uma coisa séria.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Manual de autodestruição ( 11)

Escolhe a pessoa certa. Tem de corresponder às tuas expectativas, não te entregues sem ter a certeza de que vale a pena. Exige compromisso.
Quando tudo acabar,certifica-te de que te escapou um detalhe.

Manual de autodestruição ( 10)

Ou te aceitam como és ou então que se  lixem.
À cautela assina vários canais de filmes e séries.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Manual de autodestruição ( 9)

Vigia os teus filhos, incluindo as redes sociais, controla-os. Este mundo  está muito perigoso. Eles são ingénuos, caem com facilidade.
Vais ver que assim aprendem a autonomia e ficarás  descansado.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Manual de autodestruição ( 8)

Faz   tudo o que te apetecer. O teu terapeuta retribuirá com um desconto.
Já o farmacêutico não digo nada.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Manual de autodestruição ( 6)

Quando te acontecer,  não esqueças do "que mal fiz eu? "
Já  dizia o cardeal  de Retz: o bem dá muito trabalho, o mal faz-se sem esforço.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Manual de autodestruição ( 5)

Recebido por email:

O Tomás e a Licas : adoro-os, mas dão-me imenso trabalho, quase não tenho vida pessoal. Por vezes exaspero-me com as brincadeiras constantes, as bulhas, enfim... O meu marido, depois, também não me ajuda, diz que a mãe sou eu.
A verdade  é que se ficam doentes não descanso enquanto o veterinário não  diz que está tudo bem.

Manual de autodestruição ( 4)

Nunca esqueças , nunca perdoes.
Guarda  tudo num necessaire preto com  bom fecho  de correr. Se te disserem que  terás uma vida de carrasco, mostra-lhes o capuz. Preto.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Manual de autodestruição ( 3)

Apaixona-te. De preferência  pela sua inteligência e sensibilidade.
São coisas que ninguém disputa nos divórcios.

Manual de autodestruição ( 2)

Deseja que o teu filho seja tudo o que não foste.
Não te poupes a figuras tristes, elas são o ingrediente secreto.

Manual de autodestruição ( 1)


Os serial-killers raramente matam familiares e, no entanto, são os mais  bem adaptados para fazer o que   desejas do fundo do coração: livrares-te da  família. Beaucoup fácil.
Em 1971, o capataz Juan Corona , um pioneiro destas artes, foi acusado da morte de 26  pessoas que trabalhavam num pomar de pêssegos californiano. Corona tinha mulher e 4 filhos. 

Imagina-te um Corona: por que raio haverias de matar estranhos? Cria os teus próprios familiares. Na hora certa estarão lá para ti, é tudo o que desejamos da família.


sexta-feira, 4 de março de 2016

Terapia ( 17)

Semana interessante.

1) Uma mulher, hoje com quarenta e muitos, que já conhecia porque ajudámos o marido, resolveu contar. Fez famíia e uma pequena empresa com o marido.
 Começou a ser abusada aos três anos pelo pai e pela mãe.  Continuou até aos catorze, altura em que engravidou. A criança foi adoptada. O pai  foi condenado e cumpriu pena, a mãe também, mas menor. Ela ainda guarda  um vestido que usava aos três anos. 

2) Os meus melhores sucessos actuais, salvo um, são vistos pelos doentes   como semi-fracassos. Já as terapias mais bem sucedidas não me deram muito trabalho, o mérito é delas.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Terapia ( 16)

Não olhes para o passado como uma mochila. É um cajado.

Terapia ( 15)

Nos casamentos , a história não conta para nada, só o presente define a relação... e o futuro.
Na terapia, o passado é ouro: foi feito de raiz e sem sexo, filhos, férias.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Terapia ( 14)

A fala , da boca  e do corpo, serve o propósito de saber de onde vens e aonde não queres regressar.
O que não descobrirmos é o caminho.

Terapia ( 13)

A terapia não é uma conversa. Não existem amenidades nem quebra o procotolo.
Há fala, sim. Há senha e contra-senha.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Terapia ( 12)

Se vais fazer terapia comigo é bom saber o que contratas:
a) um arquivo de  asneiras
b) um arquivo de soluções

Com sorte consultaremos o primeiro e acrescentaremos  uma ficha ao segundo.


Terapia ( 11)

Não vos analiso, não vos compreendo, não vos acarinho, 
Só tenho ouvidos e olhos para os vossos problemas: esses é que podem ter solução.



terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Terapia ( 10)

Os problemas que não podemos  resolver chamam-se tragédias.
 São fantasmas e vivem na nossa cabeça enquanto  respirarmos.

Terapia ( 9)

Muitos dos problemas têm a sua força na falta de vontade que temos de os resolver.
Por exemplo, uma separação. Ou uma trégua.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Terapia ( 8)

Decisões, decisões...
As melhores, como dizia o Roosevelt ( o Franklin) , são as que podem ser revertidas a tempo.

Terapia ( 7)

Não me perguntes o o que estás aqui a fazer, pergunta o que não andaste a fazer.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Terapia ( 6)

Estar deprimido  é diferente de ser deprimido, julgo que toda a gente sabe.
Por exemplo, estive  hoje a temperar um coelho para fazer  amanhã assado à  alentejana e depois enfiado num escabeche. Alho, sal, vinho branco e pimentão hoje, poejo, serpão , oregão  fresco, azeite e vinagre amanhã.

Terapia ( 5)

Para as pessoas, nada; para os problemas da pessoas, tudo. Ou como disseram os ganhões alentejanos a um latifundário: enquanto houver carne, não se come palha.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Aforismas ( 26)

Se esperança média de vida é a  idade média com que se morre, devíamos chamar-lhe esperança média de morte, mas a estatística é uma sociopata de punhos de renda.

Aforismas ( 25)

Apetecia-me ser padre.  Os caldos, o sossego, a leitura, a tentação permanente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Aforismas (22)

Se não há nada pior do que uma  sucessão  de dias felizes ( Goethe), então não há nada melhor do que a interrupção de uma série de dias felizes.

Aforismas ( 21)

Estou aborrecido. Não há nada que me aborreça.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Aforismas ( 18)

A crise de pânico ( suores, falta de ar etc) é o que partilhamos com as prostitutas, amadoras ou profissionais.
Quando  fechas o cérebro, abres as pernas.

Aforismas ( 17)

A fobia não é o medo de ter medo, como diz a vulgata: é  a recusa obstinada em experimentá-lo.
Tal como nos votos  de castidade, acabamos  sempre na experiência.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Aforismas (16)

A  depressão na medida exacta  é um viagra; em excesso é  priapismo.

Aforismas ( 15)

Em vez de reeditarem o Mein Kampf deviam debater o ABC do Comunismo. O Preobarenski explica que toda  a  obra da arte  é do povo ( eufemismo para Estado)  e não do artista.
Pensando melhor, os dois podem ser relidos ao mesmo tempo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Aforisma ( 12)

Se não consegues alcançar o que queres, é porque a lei ou a moral to impedem.
Remove ambas e terás o que desejas. Os outros também.

Aforismas ( 11)

Dizem que um individualista é um tipo que só gosta de disciplina para os outros.
Então um colectivista é um tipo que gosta da liberdade só para ele.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Aforismas ( 10)

As mulheres que alugam barrigas de outras fazem maternidade assistida.
O mundo não está perdido, apenas começa mais tarde. Dantes contratavam  nannies ou babás.

Aforismas ( 9)

O casamento é antinatural. Como o jazz ou o Benfica.
Engravidar é natural. Como o assassínio.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Aforismas ( 8)

É possível desejar um ser  toda a  vida. Sobretudo se lutarmos  contra esse desejo.

Aforismas ( 7)

Em espiritos  normais,  a idade apaga o ódio  porque temos menos tempo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Aforismas ( 6)

No amor  para sempre intromete-se sempre a velha necessidade de sempre.

Aforismas (5)

Os velhos intelectuais vaidosos regressam  às manias de juventude, de preferência com um apêndice de boas  mamas e melhores pernas.

Aforismas ( 4)

Queres ter a certeza de que é com  ele com quem vais ficar?
Compra um político ( vêm com bolas de cristal).

Aforismas ( 3)

Acredita em ti. Que haja alguém.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Aforismas ( 2)

Não se escolhe  a família e ainda menos  os amigos, que não são maçãs num caixote.

Aforismas ( 1)

As coisas que temos só parece que as temos; por isso não acreditamos quando  as perdemos.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Para o terraço ( mesmo com chuva)

Das variações do humor ( 2)


A hipersensibilidade à menor variação ambiental é um dos motores da ciclotimia. Uma resposta torta do filho adolescente,  uma crítica  de um colega de trabalho, uma conta inesperada. Notem que estamos a falar de pequenas variações ambientais. Nas grandes todos trememos.
Esta hipersensibilidade radica quase sempre numa esperança ingénua,  narcísica e napoleónica: está tudo controlado.  Quando verificamos que não está, entra em cena uma bastarda:  a incipiente tolerância à frustração. Não é por acaso que os alcoólicos e heroinómanos potenciais reunem  um humor  de gelatina com um baixíssimo limiar  de tolerância aos pequenos escolhos.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

No quarto ( I)

Estoutra pequena série reagrupará tudo o que se passa no quarto do casal ( hetero, homo, cyborgs, trans, tento me faz). A ideia é  mapear as fraquezas e as forças da cidadela última. Do que tenho visto em vinte anos de gabinete,  é o coração da vida em comum. E muito mal tratado.
Começo com uma pergunta: que outro espaço da casa reúne as condições do quarto? Um topoi onde se pode dormir, conversar, comer ( pequeno-almoço...) e ter sexo? Qualquer  um. A sala, o escritório. o terraço. Então  o que tem o quarto de especial ? É o único sítio onde tudo se pode fazer em privacidade.
E  a primeira doença da cidadela é a perda da sua deusa, a privacidade. Ou porque não é aproveitada ( por exemplo, o casal resolve ter discussões ácidas à frente dos garotos   noutra parte da casa), ou porque é subvertida: o casal  habita o espaço no antigo sistema da cama quente dos operários do século XIX, que Dickens e Zola descreveram com singular rudeza: quando um entra, o outro sai.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Das variações do humor ( I)


É um enorme ecossistema.  Cabe lá tudo. Da pessoa mais desequilibrada à mais ajustada, da maior fingidora à genuína desesperada. Esta pequena série  excluirá, com uma ou outra excepção,  os grandes quadros psicopatológicos. São alvo de intensa  atenção psiquiátrica e ainda mais intensa intervenção farmacológica, não lhes serve  o meu alvo : o autodomínio e o treino comportamental.
As variações de humor são normais. As variações de humor podem causar  efeitos anormais. Aqui reside o ponto: são os efeitos  que  causam problemas, porque vivemos entrelaçados. Se vivermos nus numa ilha isolada, os efeitos das nossas variação de humor são irrelevantes.
Em regra, as variações  de humor  são impetuosas ( deixo  de fora o jargão clínico) e as pessoas só contabilizam os efeitos depois do ímpeto.  Um ataque de lassidão depressiva ou uma descarga feroz sobre um familiar  criam uma situação  que podia ser evitada e com benefício para o próprio sujeito. Ou seja, não são respostas/adaptações   a necessidades externas. 
Não existe  uma  estratégia universal. É por isso que , para mim, 90% da psicologia é treta. A batalha é rua a rua, porta  a porta. Cada sujeito tem de ser estudado e conhecido. O objectivo comum, esse sim, é sempre o mesmo: mostrar à pessoa  que pode  conter as variações de humor a um ponto em que elas não  prejudicam a relação com o mundo em que vive. No fundo, aceitar a imperfeição.