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terça-feira, 11 de junho de 2013
Da resistência
" Eduarda", no post anterior:
"Tenho 32 anos e estou desempregada desde Novembro do ano passado. Neste momento, ainda posso dizer que o meu maior problema não é de origem financeira (as contas continuam equilibradas). No entanto, estando sem emprego há tantos meses e pela primeira vez na vida, convivo diariamente com a esperança maníaca e o realismo depressivo. Num só dia posso fazer várias viagens entre primeiro e o segundo.
É impossível, nesta situação, não se esperar nada do dia de amanhã. Espero, espero muito. E não me limito só a esperar: voltei à universidade, candidato-me a variadíssimos empregos. E vou lidando calmamente com a esperança e o realismo".
A frase chave está bem à vista: " É impossível, nesta situação, não se esperar nada do dia de amanhã". Uma correcção antes de responder: a esperança é por vezes maníaca , não sempre, e isso não é necessariamente negativo. O lado maníaco pode ajudar-nos a ver perspectivas diferentes, a experimentar coisas que em princípio não experimentaríamos, a ter empatia por pessoas que precisam de nós ( por ex., um milionário decide dar um milhão de euros a uma instituição de solidariedade). O osso é, no entanto, o ser impossível não esperar nada em certas situações aflitivas.
A minha proposta é que a esperança distrai-nos da resistência. É com a fadiga e o perigo que abatemos as bestas ferozes ( um da seita, Séneca), ou seja , se a situação é, de facto, gelo fino, a esperança é secundária à resistência. Todas as forças em cada dia. E foi o que a Eduarda fez: voltou a estudar, persegue empregos, enrijece todos os dias.
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Concordo em absoluto com a sua proposta, mas, deixe-me que lhe diga, não é estóico quem quer. O estoicismo não é, em muitas situações, coisa fácil de se perseguir. Em casos de desemprego aos 50, por exemplo, a coisa complica. Mesmo se recordarmos o caso da senhora a quem se referiu num post mais antigo, e que, apesar de tantos problemas, ainda encontrava ânimo para não desistir, ainda assim há quem não tenha tanta resistência. Como ajudar estas pessoas?
ResponderEliminarAtenção que o estoicismo tem má fama: normalmente só o referem como exemplo de resistência e é muito mais do que isso...
Eliminarvoltarei ao assunto
obrigado pela visita
Tem ttoda a razão...
ResponderEliminarNeste momento a esperança só pode atrapalhar outros sentimentos a pôr em prática já hoje.
Gostei de conhecer o seu blogue.
Será da família do Dr. Nunes Vicente, médico psiquiatra em Coimbra?
Saudações cordiais.
:))
Sim, o meu pai era psiquiatra e professor de neurologia.
Eliminarvolte sempre
Viver um dia de cada vez, retirar-lhe todos os sucos, e não pensar no amanhã. É o Santo Graal. Basta disciplina ou vai-se lá pelo cansaço?
ResponderEliminarNada me interessa mais, a forma como se relacionam tempo e sofrimento.
Sempre sofri de um temperamento (patologia?) ansioso e sempre foi essa a minha via para a depressão. Mas quando chego à depressão, curiosamente, é quando me sinto mais a salvo (a arrogância dos suicidas).
É curioso esse parentesco entre ansiedade e depressão, porque na forma como são sentidas parecem o oposto: a ansiedade é o excesso de sentimento de futuro (a imaginação como ácido), a depressão é deficiência de sentimento de futuro (a imaginação empobrecida). A velocidade da luz e o tempo parado. Uma é a ressaca da outra?
Neste momento volto a uma fase ansiosa da minha vida, mas ainda não me chegaram os pensamentos suicidas. E sinto falta deles. Ter aquela possibilidade "presente" acalma-me porque me sinto no FIM da minha imaginação, e nada me dói mais do que estar no MEIO da minha imaginação.
Viver um dia de cada vez seria a boa solução: vencer a imaginação sem precisar de atalhar caminho indo correr para o colo dos meus demónios. Ainda não sei fazê-lo, mas sinto em mim que talvez consiga aprendê-lo, ou que essa pode ser uma dádiva do envelhecimento: uma consequência benigna do cansaço, das crescentes dificuldades de locomoção. Não irei a correr para o colo dos meus demónios simplesmente porque não vou conseguir correr tão depressa.
Mas bastar-me-á tornar-me mais lento?
E se ficar parado não serão os demónios que me vêm buscar?
Não será a hiper-ansiedade ainda uma forma de energia, uma forma de juventude?
Quero mesmo trocar a estrada demasiado veloz pela ponte caída?
PM78
Filha de pais verdadeiramente estóicos (no sentido lato), faço como aprendi.
ResponderEliminarObrigada, FNV.
Eduarda