Um dispositivo mental para atenuar a angústia depressiva: planear. Isto obriga o sujeito a um duplo movimento, porque não só o faz contar com o mundo exterior às suas tristezas como o força a projectar-se no tempo. São dois cartuchos de calibre.
O sentir depressivo é ensimesmado. Alimenta-se do escrutíno sistemático do que corre mal, das nossas fraquezas e azares. Por instinto, fechamo-nos, engolimo-nos, defendemo-nos do exterior. Planear uma acção obriga-nos a olhar para fora.
Por outro lado, o projectar-se
no tempo ataca a porta principal da depressão: as expectativas
negativas. Se planeamos fazer alguma coisa - ajudar alguém, um pequeno
prazer etc - isso força-nos a rever o pessimismo temporal. Dir-me-ão: se
é tão simples, por que é tão complicado?
O problema reside na natureza dos planos. Frequentemente elaboramos ou dizem-nos para elaborar planos quinquenais, pesados, que nos parecem inatingíveis. O negócio é compartimentar o dia e traçar pequenas subida de colina, abrir picadas modestas.
Quando tens um acidente, partes as pernas e vais fazer fisioterapia, não começas a correr no primeiro dia, pois não?
Um segredo: odeio planear, angustia-me.
ResponderEliminarMas, de facto, tenho sempre projectos pequenos, diários ou semanais e mais outros tantos na calha. Há anos que percebi que são uma espécie de seguro de vida.
Exactamente.
EliminarFui/sou salvo, disso não tenho a menor dúvida, pela capacidade de traçar objectivos de curto prazo, bem planeados e exequíveis, que podem ser o ponto de partida para objectivos mais ambiciosos a médio/longo prazo, mas que, no momento, valem por si mesmos.
ResponderEliminarAinda bem que corrobora, Carlos.
EliminarSim, Filipe, corroboro integralmente. Exige alguma disciplina e, sobretudo, uma adequação permanente ao presente (esquecer o que se teve/quis no passado e estar disposto a recomeçar, eventualmente, em circunstâncias menos favoráveis). Nos passos a dar, aprendi, importa mais a firmeza do que a extensão; e, se tivermos que recuar um pouco, nada de dramas: voltar-se-á a caminhar em frente. Pelo menos comigo, funcionou/funciona.
EliminarSe "O negócio é compartimentar o dia ", Filipe, a sua proposta perdeu à partida, embora eu não só compreenda, como pratique desde há muito tempo, a sugestão do viver cada momento do dia. O que lixa este post sugestivo é a palavra "negócio", que sugere venda e compra, relações de poder. Se eu não puder comprar nem os próximos 10 minutos, como vivê-los, se isso significar uma refeição?
ResponderEliminarIsto parece-me tudo uma conversa excessivamente alimentada e não é por refeições garantidas.
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Título do comentário: as expectativas garantidas.
"O que lixa este post sugestivo é a palavra "negócio", que sugere venda e compra, relações de poder".
EliminarÉ só botões...
Negócio no sentido brasileiro ( como num post anterior "que nada").