Uma vez fui fazer uma pequena palestra a uma sociedade de advogados, a convite do Vasco Lobo Xavier. O tema era a mentira: como sabemos se o outro mente? Na consulta de triagem ( na psicoterapia a música é outra) não se trata de mentira judicial, claro, mas da ocultação de um facto que pode ser importante paras as decisões terapêuticas. Por exemplo, quando sou chamado a avaliar um possível absuso sexual ou quando existe informação lateral sobre algo que o sujeito terá feito e em cuja negação ele se escuda para refutar tratamento.
Esqueçam os mitos urbanos; o olhar de lado ou para a parte esquerda da testa, o corar etc. É a organização da linguagem que nos diz tudo. A pessoa tem uma história que nos quer contar, porque essa história, acredita ela, a defende da agressão exterior.
Uma mulher da zona Mau-Mau, casada, que ajudo há muito tempo, tem feito uns serviços sexuais para compor o orçamento. Tenho a obrigação de a ouvir por telefone todas as semanas, porque as consultas e as viagens são caras ( às vezes não lhe cobro nada, mas não é suficiente) e assim fomos criando um laço inter-beirão. Pergunto-lhe muitas vezes se o marido não desconfia da prática, ou, pelo menos, do alívio financeiro. Até agora, não: Antes da sopa, molha-se boca.
Já que "É a organização da linguagem que nos diz tudo." diga-me, Filipe, o que dizer quando se aprendeu a controlar a linguagem (e recordo que cita os aforismos populares)?
ResponderEliminarNão cito, citaram-me.
EliminarMuitas coisas. Se eu quiser mentir bem, tento contar a mentira com palavras baças e desinteressantes.
É um excelente interlocutor, Filipe, quanto à parte de psicólogo, não sei, nem me interessa.
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