Não vou entrar na discussão sobre a raíz neurótica-frustrada ou treinada-aprendida dos comportamentos. Interessa-me dar uma pequena ajuda a quem precisa de alterar a forma como está a conduzir a sua vida num determinado aspecto.
Uma boa base é perceber o que a pessoa define como factor Sísifo, ou seja, o que a pessoa entende que está a ser um desperdício de tempo e de esforço. Isto parece evidente, mas muita gente crê que não existe relação entre o ganho e a energia despendida para o efeito.
O amor é um desses territórios. Ele não quer, mas ela insiste, rebaixa-se, cede em tudo. A crença no outro, ou na nossa superior capacidade de o moldar, obnubila o tremendo gasto de energia e o rombo que toda a situação provoca no nosso amor-próprio.
O desgaste que a crise provoca é outra montanha para rolar pedra. A resposta habitual é a intensificação dos vazadouros: irritabilidade, bebida, tabaco, isolamento.Como é natural, a resposta só vai aumentar o peso da pedra que temos de rolar montanha acima.
Sílio Itálico, tido a certa altura como sucessor de Virgílio, mereceu de Plínio o Novo o seguinte comentário ( sobre o Punica): maiore cura quam ingenio. É isto - mais transpiração do que inspiração - , numa tradução libertina, que acontece quando ficamos cegos ao esforço inútil que dispendemos em resposta a uma necessidade não satisfeita.
O que há a fazer é, primeiro, uma confrontação honesta com a nossa cegueira. Somos nós que nos estamos a tramar, ainda que este seja um mundo de carrascos. Depois, aplicar o esforço sem sentido nas coisas que nos podem salvar. É que, ao contrário de Sísifo, não fomos castigados pelos deuses mas pelos homens, pelo que nada existe que não possa ser feito ou suportado de outra forma.
Se não acreditam em mim, leiam Primo Levi.
Sílio Itálico, tido a certa altura como sucessor de Virgílio, mereceu de Plínio o Novo o seguinte comentário ( sobre o Punica): maiore cura quam ingenio. É isto - mais transpiração do que inspiração - , numa tradução libertina, que acontece quando ficamos cegos ao esforço inútil que dispendemos em resposta a uma necessidade não satisfeita.
O que há a fazer é, primeiro, uma confrontação honesta com a nossa cegueira. Somos nós que nos estamos a tramar, ainda que este seja um mundo de carrascos. Depois, aplicar o esforço sem sentido nas coisas que nos podem salvar. É que, ao contrário de Sísifo, não fomos castigados pelos deuses mas pelos homens, pelo que nada existe que não possa ser feito ou suportado de outra forma.
Se não acreditam em mim, leiam Primo Levi.
"maiore cura quam ingenio. É isto - mais transpiração do que inspiração - , numa tradução libertina, que acontece quando ficamos cegos ao esforço inútil que dispendemos em resposta a uma necessidade não satisfeita."
ResponderEliminarE se o esforço compensar, não necessariamente pelo que através dele inicialmente pretendíamos, mas pelo que conquistámos, caminho acima, com valor permanente?
(há um ditado de inspiração budista, belissimo, que diz mais ou menos isto: the only thing you find on top of the mountain is what you bring up there).
Eu acho há muito que não há esforço inútil, ou tempo inútil. Há tempo, ponto.
É bem verdade em parte ( no texto anterior falei disso, com o esforço que Petrarca exige ), julgo, mas aqui a coisa é ao contrário: o esforço impede que se conquistem etapas.
ResponderEliminarQuanto ao tempo, plenamente de acordo, essa é uma predilecção minha e lá irei .