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domingo, 13 de dezembro de 2015

50 anos: Viva la muerte!

Cumpro hoje, roubando ao falangista Millan Astray a suposta* imprecação soltada em oposição ao discurso fabuloso de Unamuno em Salamanca:  "Viva la muerte!"
Descansem  que não sou o meu próprio assunto,  nem vos maço com  os detalhes de um dia que começou com  a porta da garagem  a cair-me em cima do carro.  Apenas para puxar  a brasa à sardinha aqui do DC: se estás vivo, até da morte ris.

* Foi Serrano Suñer ( já uma vez trouxe aos blogues a sua biografia) que garantiu a legitimidade da frase, mas Suñer não estava na  universidade de Salamanca nesse dia. Pernán, autor do  hino falangista, amenizou , dizendo que foi "morram os intelectuais traidores". Sea lo que sea.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Seguradora Love & Cª

Mulheres. Entre os vinte e os sessenta. Problema: o assumir, por parte deles,  da relação ou o continuar da relação, casamento, união de facto, o que seja. Restinga: as garantias.
Apesar de já andar nesta vida - de psicoterapeuta, ou de mecânico de pessoas, como certa pessoa, generosamente, me alcunhou -   há muito tempo, ainda me espanto. Elas querem um seguro, com garantias e franquias, de tipos que lhes mostram, com panache, que não estão para aí virados. Por que insistem? Ah...., sim, o amor.
A linha desenha-se com finura. Há amor, mas tem de haver solidez, compromisso, segurança. Então que diabo: se o amor é mais importante, a única coisa que conta   e etc, para que raio deitam tudo a perder com as cláusulas?
Uma possível resposta encontra-se num amável logro que décenios de política feminista não conseguiram ainda neutralizar ( o Bukharin dizia serem necessárias dezenas de  gerações para eliminar o conceito  de propriedade privada): o amor é uma projecção.
Daí  a seguradora. Quando fazemos o empréstimo para habitação, a seguradora projecta no tempo do empréstimo a nossa esperança  de vida. Se temos  diabetes e já somos maduros, a prestação  é alta e aumenta  a cada ano, se somos novos e como pouca  cheta, a seguradora protege-se e não bufamos.
Pois nessa coisa do amor, as seguradoras são elas. Animem-se , portanto, as mulheres: se eles não pagarem, leia-se assumirem , adeuzinho e boa sorte. Ou conhecem seguradoras boazinhas?

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Correio sentimental


"Estamos  juntos há muitos anos, ela é muito discreta, a cama é muito boa,  mas um grande amigo meu disse-me que  um amigo dele ( de quem ela fala, de facto) se gabou que só não come  a minha mulher porque não quer. Ela é, portanto, uma cabra sonsa. Como é isto possivel? O que devo fazer?"

R: Querido, tudo é possível. Se retiramos o impossível, o que ficar, por mais inverosímil que  seja, é a verdade. Assim ensinava o Conan Doyle. Calculo que o tempo faz o seu desgaste, por isso aconselho-o a aproveitar melhor o seu. Tem facebook ou uma cana de pesca?


"Ele só me quer lá em casa dia sim, dia não. Já chegámos a viver juntos, mas agora estamos nisto. Ora troca mensagens  carinhosas comigo, ora está uma semana sem atender o telemóvel. Não aguento mais , não sei viver assim, só me apetece fugir, dormir sem fim".


R: A emancipação  feminina libertou também os homens. Já não precisam de uma empregada em casa e o madonna-whore  complex passou à História. Agora só querem whores.
Sugiro um convento. Ou o facebook.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Ao trabalho: pequena nota sobre as contradições


Caridad Mercader,  comunista  e   mãe do assassino de Trotsky,   salvou da morte  imediata, em Julho de 1936,  o general Goded. Local:  Barcelona, no dealbar da guerra civil. O general fez depois uma declaração na rádio libertando os seus seguidores de quaisquer obrigações.  Acabou por ser fuzilado pelos republicanos  em Agosto.  Duas contradições? Aparentemente.
As contradições ( as dissonâncias cognitivas, na lalangue técnica) são adoráveis e uma das dimensões axiais da natureza humana. Nunca  viram uma leoa perseguir uma zebra, derrubá-la e depois resolver não a comer, pois não?
A contradição  é capaz, por exemplo, de  derrotar  o instinto ou uma das suas traduções  culturais , o fanatismo.  Nos triangulos amorosos, quem quiser  um resumo no audiovisual tem este  belíssimo filme: revejo-o sempre que posso.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

20 anos de gabinete: da miséria sexual

Uma coisa é o embrulho: sexo na publicidade, no lixo-tv, nas conversas-rádio, no abastardamento do pobre Masoch ( está aqui , é gratuito)  etc. Outra coisa é o que se passa. Só posso dar conta do que ouço, semana após semana, ano após ano. E é mau. Como psicólogo levo mais, mas  como psicoterapeuta  levo vinte anos de gabinete ( atingi anteontem a marca) e o registo da miséria sexual é estelífero. Exemplos:

Mulheres belíssimas cujos companheiros  despacham na cama sem a menor consideração pela anatomia feminina, são muitas. Eles não exploram, não estudam, ( o porno vende mulheres sempre prontas, é uma estucha) não falam.  Por que não lhe explica o que quer? Tenho vergonha. Talvez, mas o que  impressiona nestes casos é o desperdício.

Uma operária de trinta e picos, de quem gosto muito e já conheço  faz tempo,   contou-me  certa vez que o marido sofria de ejaculação precoce. Ela queria um orgasmo como as outras. Então e ele não se trata? Ele diz que não tem problema nenhum, por ele está satisfeito.  Oh boy, se alguma vez um par de chavelhos assentou bem foi a esse cromo. Ainda consegui uma sessão de casal e o tipo, envergonhado , lá prometeu  resolver  a coisa. Até hoje e ela lá continua, fiel e verdadeira.

Nos casais de meia idade à moda antiga, noto uma evolução tremenda nelas. Querem mais e perderam a vergonha.  Eles ainda continuam a falar em cumprir a obrigação. Notável dissonância.

Mulheres novas e solteiras, desinteressadas e desiludidas com o truca-truca. Umas porque acham que os rapazes mordernaços só as usam para isso, outras porque só o querem numa relação a sério. Em comum, o suspeito do costume: o compromisso.

Um anacronismo, exemplificado num episódio que uma amiga  aqui do DC me contou um dia. Estava ela numa roda de bar, homens e mulheres, trintões, e um começou a falar picante com ela. Ela, desinibida, respondeu à letra: o tipo recolheu à base. As aulas de cozinha,  a depilação   e os hidrantantes masculinos ainda  não conseguiram libertar os homens do jogo do lencinho.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O excruciante problema da antecipação


" O meu mal é que antecipo muito as coisas" também é das frases no top ten do meu gabinete. Deixemos a canga da obsessão grave, da cisma anancástica : um termo que caiu em desuso, ainda tenho fichas antigas de doentes  dos anos  60,  feitas pelo meu pai, com essa palavra.  Olhemos para a coisa nas personalidades  comuns.
Antecipamos tanto as coisas boas como as más. O problema é que  antecipação do bom não nos provoca angústia. Antecipar o mau , numa justa medida, pode ser bom: prepara-nos. Numa medida desmesurada imobiliza-nos. Então por que o fazemos?
Uma resposta pode estar no passado. Pessoas que já viveram situações terríveis tendem a familiarizar-se melhor com potenciais incómodos. São os realistas depressivos. O real é o produto do nosso olhar,  que, inevitavelmente, não se consegue desviar.  Resta-te viver.
O grande, o maior, diz isto muito melhor do que eu:

It is possible, possible, possible. It must
Be possible. It must be that in time
The real will from its crude compoundings come.