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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Aforismas (22)

Se não há nada pior do que uma  sucessão  de dias felizes ( Goethe), então não há nada melhor do que a interrupção de uma série de dias felizes.

Aforismas ( 21)

Estou aborrecido. Não há nada que me aborreça.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Aforismas ( 18)

A crise de pânico ( suores, falta de ar etc) é o que partilhamos com as prostitutas, amadoras ou profissionais.
Quando  fechas o cérebro, abres as pernas.

Aforismas ( 17)

A fobia não é o medo de ter medo, como diz a vulgata: é  a recusa obstinada em experimentá-lo.
Tal como nos votos  de castidade, acabamos  sempre na experiência.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Aforismas (16)

A  depressão na medida exacta  é um viagra; em excesso é  priapismo.

Aforismas ( 15)

Em vez de reeditarem o Mein Kampf deviam debater o ABC do Comunismo. O Preobarenski explica que toda  a  obra da arte  é do povo ( eufemismo para Estado)  e não do artista.
Pensando melhor, os dois podem ser relidos ao mesmo tempo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Aforisma ( 12)

Se não consegues alcançar o que queres, é porque a lei ou a moral to impedem.
Remove ambas e terás o que desejas. Os outros também.

Aforismas ( 11)

Dizem que um individualista é um tipo que só gosta de disciplina para os outros.
Então um colectivista é um tipo que gosta da liberdade só para ele.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Aforismas ( 10)

As mulheres que alugam barrigas de outras fazem maternidade assistida.
O mundo não está perdido, apenas começa mais tarde. Dantes contratavam  nannies ou babás.

Aforismas ( 9)

O casamento é antinatural. Como o jazz ou o Benfica.
Engravidar é natural. Como o assassínio.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Aforismas ( 8)

É possível desejar um ser  toda a  vida. Sobretudo se lutarmos  contra esse desejo.

Aforismas ( 7)

Em espiritos  normais,  a idade apaga o ódio  porque temos menos tempo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Aforismas ( 6)

No amor  para sempre intromete-se sempre a velha necessidade de sempre.

Aforismas (5)

Os velhos intelectuais vaidosos regressam  às manias de juventude, de preferência com um apêndice de boas  mamas e melhores pernas.

Aforismas ( 4)

Queres ter a certeza de que é com  ele com quem vais ficar?
Compra um político ( vêm com bolas de cristal).

Aforismas ( 3)

Acredita em ti. Que haja alguém.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Aforismas ( 2)

Não se escolhe  a família e ainda menos  os amigos, que não são maçãs num caixote.

Aforismas ( 1)

As coisas que temos só parece que as temos; por isso não acreditamos quando  as perdemos.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Para o terraço ( mesmo com chuva)

Das variações do humor ( 2)


A hipersensibilidade à menor variação ambiental é um dos motores da ciclotimia. Uma resposta torta do filho adolescente,  uma crítica  de um colega de trabalho, uma conta inesperada. Notem que estamos a falar de pequenas variações ambientais. Nas grandes todos trememos.
Esta hipersensibilidade radica quase sempre numa esperança ingénua,  narcísica e napoleónica: está tudo controlado.  Quando verificamos que não está, entra em cena uma bastarda:  a incipiente tolerância à frustração. Não é por acaso que os alcoólicos e heroinómanos potenciais reunem  um humor  de gelatina com um baixíssimo limiar  de tolerância aos pequenos escolhos.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

No quarto ( I)

Estoutra pequena série reagrupará tudo o que se passa no quarto do casal ( hetero, homo, cyborgs, trans, tento me faz). A ideia é  mapear as fraquezas e as forças da cidadela última. Do que tenho visto em vinte anos de gabinete,  é o coração da vida em comum. E muito mal tratado.
Começo com uma pergunta: que outro espaço da casa reúne as condições do quarto? Um topoi onde se pode dormir, conversar, comer ( pequeno-almoço...) e ter sexo? Qualquer  um. A sala, o escritório. o terraço. Então  o que tem o quarto de especial ? É o único sítio onde tudo se pode fazer em privacidade.
E  a primeira doença da cidadela é a perda da sua deusa, a privacidade. Ou porque não é aproveitada ( por exemplo, o casal resolve ter discussões ácidas à frente dos garotos   noutra parte da casa), ou porque é subvertida: o casal  habita o espaço no antigo sistema da cama quente dos operários do século XIX, que Dickens e Zola descreveram com singular rudeza: quando um entra, o outro sai.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Das variações do humor ( I)


É um enorme ecossistema.  Cabe lá tudo. Da pessoa mais desequilibrada à mais ajustada, da maior fingidora à genuína desesperada. Esta pequena série  excluirá, com uma ou outra excepção,  os grandes quadros psicopatológicos. São alvo de intensa  atenção psiquiátrica e ainda mais intensa intervenção farmacológica, não lhes serve  o meu alvo : o autodomínio e o treino comportamental.
As variações de humor são normais. As variações de humor podem causar  efeitos anormais. Aqui reside o ponto: são os efeitos  que  causam problemas, porque vivemos entrelaçados. Se vivermos nus numa ilha isolada, os efeitos das nossas variação de humor são irrelevantes.
Em regra, as variações  de humor  são impetuosas ( deixo  de fora o jargão clínico) e as pessoas só contabilizam os efeitos depois do ímpeto.  Um ataque de lassidão depressiva ou uma descarga feroz sobre um familiar  criam uma situação  que podia ser evitada e com benefício para o próprio sujeito. Ou seja, não são respostas/adaptações   a necessidades externas. 
Não existe  uma  estratégia universal. É por isso que , para mim, 90% da psicologia é treta. A batalha é rua a rua, porta  a porta. Cada sujeito tem de ser estudado e conhecido. O objectivo comum, esse sim, é sempre o mesmo: mostrar à pessoa  que pode  conter as variações de humor a um ponto em que elas não  prejudicam a relação com o mundo em que vive. No fundo, aceitar a imperfeição.