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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Negativo do positivo

A praga do pensamento positivo vende como pãezinhos quentes. É natural. Depois, com  a realidade em cima, as pessoas vêm pedir ajuda: as fábulas são boas para ler na cama.
Mantenho os doentes, ou os  apenas perturbados, em tensão. Se estás diante de uma  pistola brandida por um louco, ou diante de um búfalo cafre mal disposto, precisas tanto de pensamento positivo como de uma inspecção das finanças.
A tensão, o instinto de vida, se quiserem, é o que te permite ter a compreensão total do sarilho. Sim, a depressão, um divórcio, o luto e  a neura são sarilhos. O apoio psicoterapêutico, do meu ponto de vista, deve servir para extrair o máximo das possibilidades da pessoa e para  a obrigar a reconhecer  o sarilho em que está metida ( por vezes é o mais difícil). E isto só se consegue conhecendo-a tão bem quanto possível ( sim, inclusive que tipo de cereais come ao pequeno-almoço) para depois a ajudar a empregar tudo quanto tem.
O pensar positivo é para os minutos finais do SportingxBenfica.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

2 a 1


Desleixei a depressão colectiva porque estes foram dias de casos difíceis, de momentos tensos nas psicoterapias ou nos acompanhamentos. As piores situações, e sou um psicoterapeuta calejado ( velho), são as de beco sem saída.
Por vezes, ainda que esquadrinhando todo o terreno e magicando todas as alternativas, não se consegue abanar o doente. A pessoa desesperada tende a deixar cair a razão e coloca-me um problema do caraças: como ajudar quem está tão  lúcido?
É claro que existem graus. Uma mãe que não suporta o recém-nascido, uma que  não tem a certeza se para o ano terá problemas com o IRS, um mulher  sem anqueos nem horizonte etc. Em comum, a tal lucidez: já experimentaram tudo, as balas fazem sempre ricochete.
Por outro lado, são estes casos que nos põem à prova como terapeutas. As  minhas armas ( falo por mim) são um longo arquivo de situações,  e seus desençaces,  e a confiança que vem da experiência, sobretudo a mais preciosa: a dos erros que já cometi. As malabarices psis, as teorias e o mambo-jambo  não valem aqui um tostão furado.
Depois, outra subversão à ortodoxia psi. Nem empatia nem simpatia, nem distância nem flirt com as pacientes. Aliança política, um objectivo comum perseguido sem compromissos com mais nada: Nós-2, Desespero-1.