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terça-feira, 29 de abril de 2014

Tazkiyah



 Alá contra a compulsão:


"Q: Can the contemporary psychology/psychological techniques enrich the process of tazkiyah?
AbdelRahman Mussa: Following on from that, it’s not that they enrich the process; it’s that they are new tools that can be applied. For instance, if someone has Obsessive-Compulsive Disorder or has another bad habit, then different techniques can be used to help with those bad habits, and thus, achieve the necessary step of purification so that this person in question can then follow the guidance sent from Allah (SWT)".

(daqui )

domingo, 27 de abril de 2014

To fancy each other


Esta expressão inglesa é usada por Schopenhauer ( A Metafísica do amor) , um leopardo muito cá de casa. Quer ele dizer que o primeiro passo para a nossa  existência, o punctum saliens da vida,  é esse instante em que os nossos pais  começaram a amar-se: to fancy each other. Isto é de outro mundo.
A regra hoje é o petiz ter  duas casas bem antes de  aprender a ler. Não sei se fará  muita diferença, as crianças adaptam-se a tudo - a pais por decreto, a pais que se odeiam etc -    mas fico sempre a pensar como a cultura desenvolveu este sistema.
O casamento para  a vida  é antinatural, foi feito pela cultura, como  a poesia ou a bomba atómica, mas parece que ela agora  resolveu outra coisa. Not so fancy.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

"Yo creía que mí vida era mía"



Nunca é nossa. Anquises sabia-o: não tem vida florescente o  homem que se deita com deuses imortais.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

The bottom jaw





Estes dois unificam todos os pares comunicacionais. O cingalês tem de aprender a língua do inglês ( império oblige), mas o truque está na forma como se mexe o maxilar de baixo.
Ou seja, não importa tanto o que dizes, mas como o dizes.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Emorracional

A pagina tantas diz-me ele, casualmente: sabe como é, os afectos são irracionais. Ele é um homem. Um bocadinho ciclotímico, inteligente, anda pelos trinta e muitos, dedicadíssimo a actividades profissionais, pai de um filho bebé. Contradigo-o: os afectos podem ser racionais. E muito.
Esta ideia da irracionalidade das emoções há-de ser abandonada quando soubermos mais sobre o cérebro. Por enquanto aconselho vivamente este artigo.
Quando  vocês tiverem  um bebé nos braços, ponham-se em frente a um espelho. Depois digam-me se os afectos são irracionais...

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Pessa'h


Marie Bonaparte: O nosso sentido de passagem do tempo tem origem no sentido da passagem da nossa própria vida. Então, como sentir  o tempo que não passámos com quem desapareceu? Bispo duas hipóteses.

1) A religiosa.
O humano religioso, como dizia Eliade,  vive o mundo como não-homógeneo: parte sagrado, parte neutro. Há sempre uma perda primordial que rompe a realidade  dos objectos. Assim, o tempo que não pássamos com quem morreu, pertence não à nossa própria vida mas a um arquétipo que nos ultrapassa. Somos esse tempo.

2) A mutilação
 Perdemos a pessoa e perdemos o que era nosso com ela. Aceitar a mutilação, sentir esse tempo como  o amputado sente o membro-fantasma.



terça-feira, 15 de abril de 2014

Quasimodo

Já o trouxe muitas vezes em séries de poesia italiana ( noutras andanças de livros e blogues), hoje cedo-lhe, aqui, a palavra para nos definir a angústia:

Ognuno sta solo sul cuor della terra
traffito da un raggio di sole:
ed e subito sera.

tradução minha:

Todo o homem está sozinho no centro da terra
atingido por um raio de sol:
e de repente é noite.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Toynbee



Depois de Magnésia ( na figura) , as coisas correram depressa. Virados outra vez a sul, Catão , a rábula dos figos, cerco e incêndio de Cartago, fim. O que me interessa é  a discussão sobre a tese de Toynbee: quanto tempo dura  a devastação? Dizia ele  que o sul de Itália ficou árido e entregue ao latifúndio por causa dos treze anos de depredação de Aníbal. Toynbee caiu em desgraça,  a tese era arrevezada. Ou não.
Mudemos das sociedades para as pessoas. Quanto  tempo dura a devastação? É possível alguém fazer escolhas, ajustar modos de vida, organizar-se,  em função de um dramático episódio antigo? Foi para fugir à psicologização e ao trauma, que escolhi partir de uma tese histórico-política. É necessário mais do que  um episódio, uma série:  e que transforme, de facto, a vida da pessoa.
As perdas e as doenças graves encaixam bem, são aníbalescas. Os seus efeitos prolongam-se muito para além do que se possa imaginar. Quanto mais não seja porque  ficamos  diferentes. É, portanto, imperioso voltar  a reconhecer o território. Será sempre tudo novo.


domingo, 13 de abril de 2014

Pets & Minds


Gosto de atribuir raças de cães  a temperamentos. É um exercício inofensivo e ajuda-me a recapitular a forma como vejo as pessoas que tenho a obrigação de ajudar. Começa porque na maior parte das vezes os visados rejeitam a atribuição e isso dá um debate interessante,  acaba porque me faz rever um ou outro detalhe que me escapou. Não esqueço  de que quando fiz formação em psicodrama, com o Pio de Abreu, o grupo escolheu o touro para mim. Fiquei ressentido. Num dos meus livros rebaptizei-me: leopardo.
As pessoas escolhem a via essencialista quando se trata de animais. Cavalo/liberdade,  águia/ independência, leão/força etc. Ninguém escolhe  ratos, jacarés ou  ornitorrincos. Nos cães pia mais fino, porque falamos de temperamentos.
Tenho no meu  gabinete: pinschers ( sempre  a rosnar sobre as vida dos outros, mas brincalhões),  bracos ( pulam muito a cerca em busca de caça...), borzóis ( elegantérrimas mas distantes), podengões ( hirsutos mas fiáveis),  labradores ( vão com qualquer um).
Eu? Justo. Fico-me com os meus  boxers: telhudos, obcecados  com  a cultura  ( física), mas reinadios.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Dependentes


Muitas mulheres que condescendem com  a violência dos parceiros  encaixam neste perfil. Não falo só de violência física.  Entregar  ao outro o poder de decidir financeira e sexualmente também conta.
Por outro lado, conheço homens que tambem dependem da parceira  para funcionar. O ego balão inchado ( o falso self de Kohut) é um bom pretexto para a dependent personality.
A toxicomania e o alcoolismo são variantes.

terça-feira, 8 de abril de 2014

No terraço, ao sol, com um mojito, todo lo mal se vai bailando

Sai o acumulado


Tem sido chacota nas redes a desculpa da crise para tudo. É verdade que a crise deu asas ao grande guarda-chuva da sociedade criminógena, agora na versão sociedade crisiófoba, mas também é verdade ( e aí Pacheco Pereira tem sido implacável e certíssimo  na crítica) que noto uma arrogância, crebra e insistente, sobre o impacto da crise na saúde mental.
Uma fórmula simples. A pessoa já tinha cicatrizes brutais. Tem 60 anos e uma  reforma  que mal enche o depósito do Mercedes de um gestor. O marido fechou a oficina porque não tinha clientes. Em cima das cicatrizes, empilha-se agora a quase-pobreza, um nevoeiro denso, um sentimento de abandono. Pois é.
Desde o início do ano já tive de propor acompanhamento gratuito semanal  a duas pessoas. Não faço mais do que  a minha obrigação, mas  o que me incomoda é isso não ser suficiente. Nem de perto nem de longe.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Acreditar

Richard Dawkins’ Belief Scale Scoring Rubric
  1. Strong Theist: I do not question the existence of God, I KNOW he exists.
  2. De-facto Theist: I cannot know for certain but I strongly believe in God and I live my life on the assumption that he is there.
  3. Weak Theist: I am very uncertain, but I am inclined to believe in God.
  4. Pure Agnostic: God’s existence and non-existence are exactly equiprobable.
  5. Weak Atheist: I do not know whether God exists but I’m inclined to be skeptical.
  6. De-facto Atheist: I cannot know for certain but I think God is very improbable and I live my life under the assumption that he is not there.
  7. Strong Atheist: I am 100% sure that there is no God.
Veja a pontuação de Carl Sagan, Woody Allen e Einstein.
Eu estou no 3, tanto para Deus como para mim.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Poejos


Gasset viaja ( Las ermitas, 1904) até às  Ermidas de Córdoba. Em cima de  um monte, el  Desierto, as várias ermidas, brancas, cada uma com o  seu jardim. Gasset diz que lugares assim   transportam-nos à mansa região das ideias gerais.  Pois bem, nestes dias de chuva-luz, a cozinha da casa é uma ermida.
A cozinha é antidepressiva. É impossível antecipar, escolher, executar, alegrar, cheirar, lamber, provar e...deprimir. É como bom sexo, coisa, bem se sabe, antidepressiva. Sugiro o poejo. Os meus foram oferta de  um amigo, que tem uma herdade a meias com o Vitorino, lá para as bandas do Redondo ou da Ossa ( não percebi bem).
Dois pedaços de peito de borrego-baby, meia chouriça de Quiaios, sal do mar, cebolos novos, alho encamisado, azeite, colorau, um trago de branco do Redondo. Refastelemos. Grão de bico, feijão verde  segado miúdo, abóbora-menina e uma batatita  esquecida aos cubos. Água da torneira D.O.P. Respiremos. Poejos e oregãos  ( também do Vitorino, fabulosos, muito diferentes dos algarvios). Tapar. Esperar. Ler Gasset, outro mundo, outras histórias.
Pode chover lá fora, só vemos sereias.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Ansiedade e treino ( IV)



"Patients on hemodialysis with an internal locus of control (independent) adjust and adapt better than those with an external locus of control".  O estudo é curioso. As pessoas ( em hemodiálise)  que depositam o mata-bicho nos médicos ou em Deus  controlam menos a ansiedade relativa à evolução do seu estado de saúde. Tenho muitas dúvidas.
O ponto é este:
"In chronic illnesses, it is important to develop behavioral attempts to involve patients in substitute activities by seeking alternative rewards. This would help them in getting new sources of satisfaction, and enhance the effectiveness of dealing with various problems in personal, familial, societal, and occupational disturbances. However, such tendencies are less in those with an external locus of control which was there in patients in the present study".
Não percebo por que motivo não se há-de poder racionalizar, obter informação e treinar a ansiedade e ao mesmo tempo acreditar em Deus.  É proibido?