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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A vida dos velhos

Os deuses ou a natureza são impiedosos. Na antiga Rodésia, os caçadores brancos impressionavam-se com o costume dos nativos: quando um velho já mal se mexia, era levado para o mato  e abandonado às hienas e aos  leões. Isto está na origem de um velho debate sobre a formatura  e mestrado dos devoradores de homens, mas, por muito interessante que seja, e é, não vem ao caso.
A melhor companhia do velho é a velhice. Centenas de doenças metabólicas, artroses  avulsas, solidões estelíferas, chatices do neurónio motor, cataratas.O instinto de vida é tal que eles lutam como hoplitas delirantes.
O meu dia termina quando um velho, lúcido, acabado, só, me diz que é melhor morrer. É muito aborrecido dar razão a quem sabe mais. E depois penso em leões.

6 comentários:

  1. Piores são as hienas, tem atenção às hienas, Filipe.

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  2. Concordo consigo, na minha vida de estudante de enfermagem, deparei-me com uma realidade desconhecida e muito dura para mim...
    Recordo na altura, eu com os meus 18 aninhos acabados de fazer, com sonhos e ideais de fazer o bem e mudar o mundo... e afinal, deparo-me com uns velhotes numa cama de hospital, a pedirem-me constantemente e diariamente que os deixe morrer...
    Foi um choque para mim...
    Naquela época comecei a entrar em depressão, porque talvez no meu inconsciente, eu sabia que eles tinham razão...
    A vida é bela, sempre foi, mas nem sempre é aquilo que sonhamos e imaginamos... e infelizmente, nem todos sofremos e passamos pelas mesmas experiências de vida, para tentar compreender o lado do outro... E não sei se isso é bom ou mau...
    Acho que quando esse dia chegar, me vou atirar aos leões...lol

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  3. Não há igualdade na vida e muito menos na morte.
    Para alguns,muito poucos, uma viagem a Zurique com uma visita à Dignitas,é uma saída que é bom saber que existe.

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  4. sim.

    a dor, cada vez mais aguda e invasora, à medida que os anos passam, deve levantar tantas questões...

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  5. Há meia duzia de anos, fui parar aos cuidados intensivos de um hospital. Entre traumatizados vários estava a meu lado um velho mesmo muito velho (disseram depois que não era muito, tinha "só" setentas e tal), sem dar acordo de si todo tremente de Parkinson. Dormia ou desmaiava, nunca o ouvi falar ou olhar. Pois todos os dia, nesta cultura do estímulo constante, lhe gritavam aos ouvidos (com as melhores intenções e bondade) "acorde senhor engenheiro!" "Bom dia senhor engenheiro". E depois içavam-no da cama com uma espécie de gindaste. Lavanvam, viravam e alimentavam. Eram precisos muito enfermeiros e este era tratamento VIP, de engenheiro... dias após dia, aposto que cheio de medicamentos e vitaminas, como se senhor um dia fosse acordar e correr de novo. E eu doente suficiente para desejar apagar-me fiquei a pensar como é egoista não deixar morrer em paz, tranquilamente na caminha como dantes... Tomara que quando chegar a minha hora já estejam noutra.

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