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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

20 anos de gabinete: da miséria sexual

Uma coisa é o embrulho: sexo na publicidade, no lixo-tv, nas conversas-rádio, no abastardamento do pobre Masoch ( está aqui , é gratuito)  etc. Outra coisa é o que se passa. Só posso dar conta do que ouço, semana após semana, ano após ano. E é mau. Como psicólogo levo mais, mas  como psicoterapeuta  levo vinte anos de gabinete ( atingi anteontem a marca) e o registo da miséria sexual é estelífero. Exemplos:

Mulheres belíssimas cujos companheiros  despacham na cama sem a menor consideração pela anatomia feminina, são muitas. Eles não exploram, não estudam, ( o porno vende mulheres sempre prontas, é uma estucha) não falam.  Por que não lhe explica o que quer? Tenho vergonha. Talvez, mas o que  impressiona nestes casos é o desperdício.

Uma operária de trinta e picos, de quem gosto muito e já conheço  faz tempo,   contou-me  certa vez que o marido sofria de ejaculação precoce. Ela queria um orgasmo como as outras. Então e ele não se trata? Ele diz que não tem problema nenhum, por ele está satisfeito.  Oh boy, se alguma vez um par de chavelhos assentou bem foi a esse cromo. Ainda consegui uma sessão de casal e o tipo, envergonhado , lá prometeu  resolver  a coisa. Até hoje e ela lá continua, fiel e verdadeira.

Nos casais de meia idade à moda antiga, noto uma evolução tremenda nelas. Querem mais e perderam a vergonha.  Eles ainda continuam a falar em cumprir a obrigação. Notável dissonância.

Mulheres novas e solteiras, desinteressadas e desiludidas com o truca-truca. Umas porque acham que os rapazes mordernaços só as usam para isso, outras porque só o querem numa relação a sério. Em comum, o suspeito do costume: o compromisso.

Um anacronismo, exemplificado num episódio que uma amiga  aqui do DC me contou um dia. Estava ela numa roda de bar, homens e mulheres, trintões, e um começou a falar picante com ela. Ela, desinibida, respondeu à letra: o tipo recolheu à base. As aulas de cozinha,  a depilação   e os hidrantantes masculinos ainda  não conseguiram libertar os homens do jogo do lencinho.

20 comentários:

  1. Há sobretudo falta de comunicação, e provavelmente desde o namoro, Filipe.

    A história das "puras donzelas" também deve ter um peso grande, muito inibidor para as mulheres.

    E a igreja tem muita culpa, faz muito boa gente pensar que prazer é sinónimo de pecado.

    E para o fim fica o egoísmo masculino, que provavelmente em vez de diminuir tem aumentado (se a sociedade é o que vê... e até pelos exemplos de violência doméstica). Para mim o maior "orgasmo" é a partilha de prazer, mas cada um de nós é um caso.

    Acho que o facto de ainda não estarmos preparados para lidar com as "predadoras", tem muito que ver com a sociedade e também com a própria mulher. A maior parte das mulheres continuam a esconder o que sentem, a gostar de se fazerem difíceis, a preferirem o "namoro" longo, com flores e chocolates, antes do sexo.

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    1. Sim, mas mais do que as supostas preddaoras, interessam-me mais as supostas sossegadas.

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    2. A primeira parte do que Luis Eme fala não concordo, porque tanto nas escolas, net, livros, media não se entende e não aceito que que ainda haja falta de comunicação e a igreja a interferir. Só na camada mais velha. 1ª. os jovens como nós a maior parte viveu liberdade do 25 Abril e não vai á igreja. Se confundem prazer com pecado é grave, é pura ignorancia, tanto do lado masculino como feminino. A falta de comunicação penso que seja por "pressa" de atingir os fins, não saberem explorar e conversar efectivamente.
      Quanto á segunda parte, o egoismo masculino e o que o FIlipe menciona, é pura verdade. Tenho constatado em pessoas conhecidas o que me deixa com um certo nojo. Utilizam as esposas para cumprimento do dever, depois partem para a "aventura" fora de portas dando azo á imaginação.

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    3. até ias bem Luís... mas escangalhaste a coisa com isto:

      "Acho que o facto de ainda não estarmos preparados para lidar com as "predadoras", tem muito que ver com a sociedade e também com a própria mulher. A maior parte das mulheres continuam a esconder o que sentem, a gostar de se fazerem difíceis, a preferirem o "namoro" longo, com flores e chocolates, antes do sexo."

      essa adjectivação de predadora e das namoradas longas e floridas. claro, andamos nós, as fêmeas, a deambular por esses extremos. se dizemos o que queremos e como, somos predadoras. se não dizemos é porque queremos ser enfiadas numa caixa de chocolate com validade prolongada.

      irra, que atentos andam os homens.

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    4. Rita,

      utilizei o termo "predadora" e a "história das lflores e chocolates" como provocação. Mas se nós somos predadores, quando andamos em busca de presa, porque razão vocês também não o podem ser?

      Em relação às "flores", embora já seja casado há uns anos valentes e não seja "namoradeiro", quando converso com amigos e companheiros mais jovens, percebo que o hábito de as mulheres se fazerem difíceis, continua em cima da mesa.

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    5. vocês não são predadores. são classificados como homens comestíveis ou não.

      oh, é só uma provocação...

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    6. Também, Rita. :)

      Afinal não somos assim tão diferentes, é tudo uma questão de terminologia. Nós utilizamos mais o termo "papáveis", vocês comestíveis. :)

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    7. é tudo - quase tudo - uma questão de peso cultural. a terminologia é só reflexo disso mesmo.

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  2. O que mais há por aí são supostos garanhões a fugir da ação. Muita conversa para pouca ação. E sim a quantidade de homens que não sabe o que fazer com uma mulher é verdadeiramente assustadora. Pronto, falei :)

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    1. tem toda a razão. Eu classifico esses homens como uns frustrados que nem a eles sabem fazer felizes quanto mais uma mulher. Por isso é que têm garganta a mais e o mais certo é nem terem nem metade da acção que afirmam ter.

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    2. ...a clássica frase que o lugar da mulher é na cozinha significa que há homens que não sabem o que fazer com ela no quarto, ou em qualquer outra parte.
      :-)

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  3. Ah sim, e parabéns pelos 20 anos, é obra. da minha parte, porque ainda não tive o prazer de fazer terapia consigo, agradeço-lhe a presença na blogosfera e dou-lhe os parabéns pelo que escreve. Ainda sou do tempo do odi et amo ;)

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  4. Filipe, tb existem casos pós parto, ou situações criadas pela vida fora que atrapalham a vida sexual do casal, pensando-se que se tem problemas e que após detectado por pessoas como voce se resolve e muito bem a harmonia sexual do casal. Verdade?

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    1. Sim à primeira, não à segunda: não sou terapeuta sexual ( coisa disgusting de resto) .

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  5. BEST ARTICLE I HAVE READ , como dizia algumas vezes Winston Churchil

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  6. Parece-me que nos faltou, à cerca de 40 anos, o luto, ou o silêncio do porquê de 48 anos. Faltou-nos uma linha de sombra (Conrad) que nos libertasse desse passado. E assim, entre o intimidado e o descarado, entre o envergonhado e o vaidoso e entre o moderno e o saloio, se instaurou a violência do consentimento e da ignorância. Tanto deles como delas. Parece-me. Mas não sou da profissão.

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  7. Eu falo pelos casos que conheço e confere: a maioria das mulheres não pedem na cama o que gostam...e só perdem.

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