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segunda-feira, 3 de março de 2014

Aceitar


Tenho uma dificuldade. É uma mulher nova, com uma criança pequena, o marido morreu  há uns meses. Ela recusa o estatuto, enraivece-se contra o destino, tem experimentado auto-mutilações. Não é tanto o caso dela, mas o tom destes. Podia ser a mãe do estudante que morreu no outro dia ao volante ao pé de Coimbra, pode ser qualquer um que entenda que já nada vale  a pena.
Estes cenários são pedagógicos. A lalangue psi  pouco tem a dizer, a psiquiatria arruma-os com doses cavalares ( e  às vezes necessárias) de antidepressivos e hipnóticos.
Aceitar é uma tarefa diabólica. Julgavámos  estar destinados a um futuro de bonomia, sentimos os golpes como estrangeiros.

4 comentários:

  1. pessoamente, e felizmente, a morte surge apenas no meu imaginário. as perdas que tive estão bem longe dessas que descreve. contudo, arriscaria dizer que de entre muitos factores que permitem sobreviver não subestimaria a linguagem psi (excluindo, obviamente a das revistas de sala de espera). ela pode ser a pequena (grande?) ligação que não nos faz perder em nós próprios.

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  2. Não sei se conhece a série "Breaking Bad". Síntese da cena em que estou a pensar: ouvimos frases de um grupo de auto-ajuda, impera o discurso do "é preciso aceitar". Depois de vários encontros em que se transmite a filosofia da aceitação, uma pessoa grita, grita porque não aceita que se possa aceitar, ou que da aceitação dependa qualquer coisa como uma "cura". Será esta a questão?

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  3. Conheço, estou no fim da segunda temporada.
    Estou muito longe disso: o aceitar de que falo e sobre o qual escrevi e publiquei não tem nada, nada mesmo, a ver com "cura": é fim, perda.
    Vou aproveitar essa sua pergunta para daqui a bocado explicitar melhor.

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    Respostas
    1. Daí o "diabólico". Mas, se a coisa é diabólica, que finalidade existe, então? Aceita-se para não adoecer? Finalidade preventiva, para não dizer adeus ao mundo?
      Ou o diabólico é, exactamente, essa ausência de finalidade? (magnífica série)

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