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domingo, 12 de outubro de 2014

Ruptura



A série, entre  outras vitualhas, serve-nos um curso inteiro sobre a ruptura amorosa. Não sei se a minha guru das  ( boas) séries já  viu a coisa sob esta prisma, como dizem os autarcas, mas arrisco  a repetição.
Quando a série começa, o  par Walter/Skyle  tem cerca de 16 anos de vida em comum, um filho com deficiência física e uma vida pacata. Depois o homem ganha um cancro mortal e a mulher engravida. O casamento sobrevive e melhora. É então que Walter se torna  um druglord das anfetaminas e  a ruptura , ou melhor, as rupturas, se instalam. Em pizzicato.
Skyler, um papel fabuloso, do melhor que  já vi,  representa a mulher inteira e quase-honesta, mas,  sobretudo, a mulher de fibra, a anti-donzela: não se queixa e ninguém  a pisa. É uma combinação encantadora. A sua principal nemesis é a segurança dos filhos.  Quando compreende o verdadeiro alcance das  actividades do marido, agita-se.  A traição de Walter, a sua vida dupla,  não é com uma mulher, é com  a segurança. Os milhões e as mentiras  são o bilhete para Walter  ver Skyler enrolar-se  com o antigo patrão.
Mais tarde,  a ruptura entra numa nova fase. Walter  promete emendar-se e Skyler aceita. O cliché da reconciliação é subvertido: fica-se com o dinheiro e com a segurança.  Skyler ajuda na lavagem do dinheiro. O problema é que as coisas são o que são e Walter retoma  a actividade, ou melhor, as consequências da actividade. Não foi infectado pelo HIV nem engravidou a amante, apenas teve de desatar a matar ex-cúmplices,  é perseguido pelo cunhado, da  DEA, etc.  Skyler,  agora  anti-Medeia,  prefere os filhos e a ruptura não tem retorno. O confronto físico final entre os dois não conta muito, mas  a despedida, sim: Walter assume que tudo que fez não foi, afinal, pela família, mas por ele e para ele.
Este curso geral da ruptura amorosa mostra que, num casamento -  tradicional e com filhos - as prioridades  políticas são negociáveis apenas até um certo ponto. Walter e Skyle têm uma base irredutível, nacionalista, que os afastará sem remédio. O truque, se é que existe, é  nunca ter de  chegar  a negociar a base.


5 comentários:

  1. Walter não assume verdadeiramente que o fez por ele e para ele pois continua(?) a acreditar que o fez pela família, mas di-lo a Skyler para que esta encontre alguma -pouca, a possível- paz. Ou talvez não, e é a dúvida o extraordinário da cena.

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    1. pois , há milhares nterpretações, e websites dedicados à coisa, , a minha reside na indicação dos argumentistas: ele quer ser o melhor naquilo porque não o deixaram ser na outra área.

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  2. Os perigos de considerar as razões prévias dos argumentistas americanos.

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    1. pois, mas são quem escreve o que vc vê, como os romancistas o que vc lê etc.

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  3. Bem verdade, mas a evitar portanto, sobretudo nas séries de televisão. Ainda me lembro da desilusão que foi ver o making off do true detective.

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