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terça-feira, 25 de agosto de 2015

Elas e as rupturas


Muito mais difícil. Há nas mulheres - que acompanhei e acompanho - uma recusa suave da ruptura, que demora, às  vezes, mais do que o tempo que  a relação durou. Pode ser um acaso, uma coincidência no meu gabinete, mas é um acaso que se repete há vinte anos ( antes trabalhei como psicólogo, mas não fazia psicoterapia, não tinha calo suficiente). Falo de uma faixa etária em média entre os 30 e os 60. São mulheres crescidas, quase sempre com fibra, génio e coragem. O que  aumenta o mistério: por que raio não os esquecem?
Na altura em que escrevo isto vejo as caras e os corpos de muitas delas. Muitas horas tensas no gabinete, esquadrinhando as frases, as culpas, os remorsos. Por vezes filhos pelo meio, técnicas sexuais, coisas de dinheiros, até violência. No final, sempre o mesmo: como é que ele me fez isto?
É impossível ter esta profissão e não ir ganhando um respeito imenso por elas. Seguram o centro, ligam a família, trabalham que nem galegas.
Talvez o problema seja , em parte, este: investem tanto neles como no resto. Um erro fatal, como Vasco de Lima Couto explica : só agradeço o que peço / e não o que mereço.

7 comentários:

  1. Acho que o homem é mais prático. Diz chega e é literal. Eles tem a noite, os amigos e a seguinte. Elas tem a inteligência e a imaginação contra elas.

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  2. Quer dizer que são "autistas"/esquisoides, não sentem? É por isso o mais "praticos"?
    Pratico no sentido e a vida continua.
    Mata las a vida não parece continuar...

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  3. Sou técnico de emprego. Atendo semanalmente muitas mulheres que se sentam à minha frente com vontade de repor a vida nos carris.
    Gosto de mulheres.
    Quando a crise chega – o desemprego, a doença, o que for – eles são os que bazam. E o mais espantoso é que, mais das vezes, uma paixoneta e rabo de saia é mais do que suficiente para legitimar a cobardia e falta de responsabilidades. E se não têm isso, tudo lhes serve para fundamentar o alargar da pança e arrastar de chinelos em calções a mostrar os grafitis e arneis com que reconstroem a identidade.
    Elas, que há meia dúzia de anos arrasavam enquanto procuravam emprego “na minha área” no pst-licenciatura, sentam-se agora, de costas direitas, olhando de frente. Bem arranjadas, com roupa que se vê ser do chinês, deixam ver as fotos dos filhotes enquanto puxam pelo cartão de cidadão.
    Há na vidas destas pessoas um clique, um passe de mágica, na curva de uma vida que deixa atrás uma felicidade de gangas de marca, madeixas e curtes, e faz ver pela frente uma montanha de Sísifo que enfrentam sem pedantismo nem heroísmo.
    Não sei bem de onde é que sacam os créditos de dignidade com que levantam a cabeça.
    Não será à “família”, à “escola” ou à televisão. Até pode ser a tudo.
    Mas tenho para mim que é aos filhos .
    Os filhos são das mães.

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  4. vai para o blogue, aliás já lá está.

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