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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Incómodos


C., 70 e poucos:
Dr.,
A perda de faculdades incomoda-me muito, quer a nível do físico quer do foro intelectual e mental. E o medo da morte e do que pode ir acontecendo até então. Gostava de conviver e agora tenho dificuldade por grande insegurança. Sozinha não saio de casa. Ontem terá sido a 1ª vez: a senhoria mora do outro lado d 1 caminho que, no meio desta espécie de quinta, a atravessa  e em cada extremo tem 2 estradas. Fui mais ou menos até 1/3 para falar c/ a sra. e voltei mas sempre com medo de cair. Ponho tudo em causa e só tenho a certeza que não estou bem e que incomodo as pessoas que não têm nada que me aturar. E o que ouvimos( "os grisalhos, a C.Lag - até gosto de ouvir Adriano Moreira) revolta mas não ajuda nada. Dr. Filipe, agradeço a sua ajuda, nem imagina quanto. Até breve.


Esta senhora foi colega de escola de uma famosa figura do 25 de Abril. Talvez por isso ainda se interessa por política. Temos trabalho pela frente, porque a sua lucidez faz com que ela veja a perda das faculdades como um assalto ao quartel da liberdade. O problema é que ela tem de aceitar a ajuda de quem a ama em vez de achar que incomoda as pessoas.
Neste mato não há espaço para promessas. Não há terceiras vias nem alternativas. Vamos aproveitar a energia e a inteligência desta senhora para fazer com que ela compreenda que envelhecer  combina bem com receber. Mimo dos outros, portanto, laço humano.

2 comentários:

  1. Os meus pais, a chegar aos meados dos setenta, têm-me. Faço questão de estar e ser para eles. Não permitirei que envelheçam sós. Pelo que vejo e oiço, a solidão dos nossos velhos é o pior cancro da sociedade portuguesa.

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  2. Dedicado a esta mulher de que nos fala, a mim próprio e a toda a gente que tem nós e nós...De Adília Lopes (poetisa):

    Tenho uma vida
    a viver
    e uma morte
    a morrer


    Tenho nós
    dentro de mim
    que tenho
    de desatar

    Tenho nós
    dentro de mim
    que me estão
    a estrangular




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