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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Os sacríficios pelos filhos: mitos



"Fui uma sacrificada" e "sacrifiquei-me toda  a vida pelos filhos" são linhas emocionais que emparelham bem com "não estou para abdicar da minha liberdade por filhos" e "não preciso de ter filhos para ser feliz". Todas estão certas. As duas primeiras porque é assim que a mulher se quer definir, as duas segundas porque filhos são opções  e não são essenciais para a felicidade. 

Todas estão erradas:

1) Mesmo nas condições mais terríveis ( por ex, campos de refugiados e/ou pobreza extrema), uma mãe  emocionalmente saudável não sente como sacrifício abdicar de um pedaço de pão velho para  o filho. Já numa cidade europeia, uma rica mãe talvez julgue ser um sacrifício continuar casada ou perder uma hora  de sono por causa da criança, mas é uma ilusão: a manutenção do  casamento  dependerá mais da manutenção do nível de vida e  uma hora de sono recupera-se não trabalhando tanto para pagar o silicone. 

2) A nossa liberdade depende de muita coisa: do regime político  em que vivemos, do nosso amor-próprio, de termos sido amados ( ou de superar o inverso), de sobrevivemos à inveja doentia. De filhos não depende de certeza. A nossa suposta  felicidade são bocados soltos de tudo o que  a vida tem e filhos são vida. A menos, claro, que a mulher imagine que não ir passar o fim de semana fora sempre que lhe apetece é uma limitação à sua liberdade ou que a felicidade é fazermos o que quisermos; como os velhos comedores de ópio.


Lembro-me de uma senhora do povo, duriense, que contra a vontade do marido escolarizou as cinco filhas. Passou trabalhos piores do que os do Benito Prada.  Disse para a televisão: Sacrifício? Que disparate. Fiz com todo o gosto e voltaria a fazer. Quanto à liberdade e à felicidade, entendidas como no ponto 2, cruzo-me amiúde  com  uma mulher  que passeia todos os dias dois cãezinhos impecavelmente vestidos: Dão imenso trabalho, nem queira saber, mas são tão queridos..



4 comentários:

  1. Gosto tanto de "o" ler. Obg. Dulce

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  2. Consolidação do meu olhar perante a vida , ao lê-lo, e de associá-lo a >Coimbra...

    Eu mãe e quase avó, criadora solitária a partir dos 33 anos de idade e com um saldo elevadíssimo. O" sacrifício" que pensamos poder fazer em determinadas circunstâncias confunde-se com "pena de"...
    O egoísmo de algumas elites de que fala, não passam de uma forma de estupidez natural . Pessoas sem alma.
    saudações figueirenses... :)

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