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quinta-feira, 4 de junho de 2015

Ponto de ordem: estoicismo e epicurismo nos tempos de hoje


Ao longo do tempo, muitos leitores/participantes   têm mostrado o seu saudável cepticismo diante da linha estóico-epicurista  ( escolas até historicamente adversárias) deste blogue. Compreendem  que para os desconhecedores  não posso aqui deixar fichas de leituras de Séneca, Zenão de Tarso, Epicuro, Epicteto, Horácio, Montaigne, Petrarca ( cripto), Lucrécio etc. Os  já iniciados também entendem que não posso abandonar o tom psicoterapêutico e mergulhar na filosofia sem luvas. Ainda assim, uma nota sobre  dois aspectos : o não desejar nada e o tempo como ciclo finito e sucessivo.
  Não desejar nada não significa não gostar de comer umas petingas amanhã nem a pele da que dorme ao nosso lado. Esses desejos são razoavelmente encaixados, tanto no que está ao nosso alcance como no horizonte temporal. Muito diferentes são os desejos de fama, riqueza, filhos geniais, beleza, saúde.
Isto entronca na perceção do nosso lugar no mundo. O que existe, o que está, é brutal. Não tem preço. Trocá-lo ou desprezá-lo, em função de coisas que queremos, leva muitas vezes ao desperdício da vida. E isso, posso eu garantir-vos, tenho visto muito ao longo de vinte e tal anos de trabalho.
Não se trata  de ficar insensível ao que nos acontece, como disse um leitor. Basta ser benfiquista para isso ser impossível. Antes pelo contrário, trata-se de respeitarmos a vida de tal forma que não desperdiçamos  nada, ainda que isso nos obrigue  a escolhas suspeitas.

26 comentários:

  1. Continuo sem perceber nada, mas acho que concordo... e continuo a pensar nos sapatos. Sim - é este o nível desta tua leitora.

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    1. leio os vossos posts trezentas-e-cinquenta-duas vezes e nem ao concordo chego (suspiro).

      (deste e do teu 255, acaba por estar tudo no mesmo plano, não?)

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    2. não chegas ao da Gata? nunca sentiste um precipício a olhar para ti?

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    3. Cat: e eu não concordo contigo mas percebo.

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    4. não disse que discordava :)

      quanto à Cat. - que é efectivamente uma gata (talvez leve com um sapato na cabeça, valha-me o pormenor dela não usar saltos) - é estranha (agora, sim. levo mesmo com o sapato). bem, é a estranha que não me estranha.

      e está bem humorado o xô-dotor, que conhece os precipícios que olham para mim e para os quais eu olho. talvez me valham os óculos, que vejo melhor e fujo desses buracos sem fim, que as vertigens são grandes.

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    5. Depois de vos ler, resisto estoicamente à vontade de abandalhar. A terapia começa a fazer efeito, doutor. Lamento muito.

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    6. se vcs as duas continuam a gozar comigo vendo-vos ao Sporting.

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    7. sim, por favor! quanto vamos ganhar? eram quatro milhões no benfica-despeitado-que-anda-a-photoshopar-fotos-do-campeonato.

      perdão, bicampeonato.

      :)

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  2. Ah!!! assim já nos entendemos...para mim, assim, está óptimo!

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    1. óptimo não estará, mas melhor espero que sim; e haverá mais...

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  3. Aqui:
    Operária ... de fraldas... amante de fugatas? Certo.
    O fim não é concordar, é silenciar. Calada: Shut.
    (Mas: não será que o que alguém vinha para dizer, tão real quanto o que diz? Não pode isso ser o que fica calado? Talvez calado em risos)?

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  4. Filipe, se percebi bem: um conto são os pequenos desejos, as mundanidades. Outro, completamente diferente, são os desejos cuja realização não depende de nós. Ora, tentar realizar os primeiros é normal e encaixa-se na tal percepção do nosso lugar no mundo, ou seja, não tentamos ser mais do que o que somos. Já o segundo implica exactamente isso: desejar ser-se mais do que aquilo que se pode ser tendo em conta aquilo que se é. É isto? Faz sentido? Mas então como é que evoluímos? Com os pequenos prazeres (como as petingas e a pele da outra), rejeitando os tais grandes de que falou e cuja busca leva ao desperdício?

    O meu problema é este: se eu quiser ser melhor do que sou, e aqui melhor tem o sentido do conhecimento, ou seja, se eu quiser saber muito de qualquer coisa, deverei tentar sabê-la com moderação e aceitar que só poderei saber dessa coisa até certo ponto, de modo a não focar a minha vida só em saber essa coisa e nada mais?

    João

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    1. João , vou aproveitar estas tuas ajudas e desenvolver, porque o assunto interessou as pessoas.

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  5. Quando, no comentário ao post anterior, falei em insensibilização tinha na cabeça sobretudo uma frase do "Enchiridion". Algo como: "se abraças o teu filho ou a tua mulher, lembra-te de que abraças um ser mortal - e que, portanto, se qualquer um deles morrer, consegues aguentá-lo".

    Por que devo predispor-me a aguentá-lo? Sem me ter morrido o filho, não quero estar num lugar filosófico em que morte do meu filho mortal é "aguentável". É esta uma atitude moral antes de me ter morrido o filho? Não é um treino escandaloso?

    No lado epicurista, perco-me. Aproveitar a vida soa-me sempre a um exercício um pouco melancólico. Simplesmente não consigo habitar os prazeres. Estou sempre a viajar pelas ansiedades.

    (Obsessivo-compulsivo?)

    P.

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  6. eu aguardo pelo que virá...mas os meus desejos são da ordem das "petingas"... como escreveu Clarice Lispector:"...o que eu desejo ainda não tem nome."

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    1. bom gosto, mas, nesta nossa conversa, se bem me lembro, os desejos têm um passado. ( e até na culinária).

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  7. Estou perdida. Não percebo ou não me percebo.

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    1. se a srª drª tiver a bondade de dizer o que é que não percebe...

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  8. Em função das coisas que queremos. Sempre soube exactamente o que queria. Agora estou completamente desiludida. Acho que o nome no sitio onde investi a minha vida tem um nome assédio moral e estou a tentar exigir menos de mim para por um pé a frente do outro. Não desejar nada.
    Não é já desejar? Nada. O que eu quero...julgo que não sei o que quero.

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    1. Não sabe o que quer? Vc é uma refrescante adolescente que enganou a passagem dos anos ( sempre me pareceu issso...).

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  9. Ok mestre vou encarar como elogio ;)

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  10. Sem Deus nem mestre. :)
    Ok vou encarar como um elogio.
    Oh pra mim a obedecer...

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  11. Esta adolescente teve um sucesso profissional e ficou cansada e triste. Ter dormido 7h em 2 dias ajuda...mas não explica tudo. Tas a ver? Tas a ver? :). Desejo...nada.

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