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quinta-feira, 13 de junho de 2013

Da Sorte


Começa  a haver  retorno dos participantes ( aqui não há leitores)  no Depressão Colectiva. Eu lanço, eles relançam, eu lanço outra vez. Diz um/uma partcipante no último post:

"Viver um dia de cada vez, retirar-lhe todos os sucos, e não pensar no amanhã. É o Santo Graal. Basta disciplina ou vai-se lá pelo cansaço? Nada me interessa mais, a forma como se relacionam tempo e sofrimento".

Tempo e sofrimento. Também é o meu osso, mas hoje só um relance. Por casualidade, a minha tese de mestrado, nos longínquos anos 90, foi sobre a temporalidade e desde  aí  fiquei sempre  ligado ao assunto. Mal sabia que a vida me ia obrigar a regressar a ele tantas vezes ( a morte de um filho com ano e meio), mas vamos à interpelação.

Peguemos  num dos maiores  ( Petrarca) : Queixas-te da Sorte mas ela  não te roubou nada, apenas tomou o que era seu.  Em tempos de  sofrimento  só temos  olhos para o que perdemos, raramente para o que já recebemos. É uma disposição psicológica  natural, mas pode ser reinvertida.
Não é pelo cansaço nem pela disciplina ( embora ela seja importante), é pela posição que assumimos diante do mundo. Se nos convencemos que estamos  cá para ser felizes, tramamo-nos. Se compreendermos  que estamos  cá para lutar, rua a  rua, porta a porta, todo os dias, pela sobrevivência, valorizamos tudo.
Não há segredos nem truques. Há a orientação do olhar para o que desvalorizamos, ora porque achamos  que é pouco, ora porque entendemos que nos é devido e permanente. Não é: amanhã a Sorte ataca outra vez.


8 comentários:

  1. Hum...a Igreja Católica fez "milagres" com uma conversa parecida. Há quem lhe atribua por isso grande responsabilidade no atraso dos países do sul da Europa.

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  2. É por isso que desconfio dos psis, a reificação do sujeito, as tipologias de personalidade, o foco no "eu interior", no fundo reedições da "alma" ancestral, esquecendo ou pretendendo esquecer que nada é puramente individual, ignorando as estruturas, os processos sociais, o ser colectivo e o seu poder e contribuindo assim para isolar o indivíduo e melhor o controlar.

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    1. Era o que os soviéticos diziam, por isso a psicanálise foi sempre proibida.
      Mas eu ainda desconfio mais dos psis, e com mais razões do que vc.

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  3. A sua mensagem é simples, “não há segredos nem truques”. Eu, que muitas vezes ando mais perto das “ondas” do que do “rio”, procuro, a cada dia, encontrar uma pequena “fórmula” a que possa recorrer, e hoje as suas palavras vão ao encontro disso. Acredito (ou faço por acreditar) que tudo pode ser simples e que é importante que tenha presente alguns pensamentos orientadores, que os repita nas minhas reflexões até à exaustão, até entranhá-los nas minhas acções, até que nem dê por eles. Simplesmente, e servindo-me das suas palavras, com o intuito de assumir a melhor posição diante do mundo. Bem sei que nem tudo é linear, as fórmulas nem sempre dão para tudo, mas é preciso começar por algum lado… e procuro fujir das explicações complicadas e análises para tudo e analogias desnecessárias, porque muitas vezes não ajudam nada.

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  4. Bom, também podemos pensar que viemos cá para ser o mais possível felizes e ser essa a nossa luta. Eu gosto mais dessa ideia porque coloca a fasquia mais alto e é aí que ela deve estar. Em suma, embirro um bocadinho com a psicologia positiva, às tantas andamos às migalhinhas. Depois...o individuo ou a sociedade (como questiona e bem a Ivone)...é a velha questão à qual o povo responde bem: nem tanto ao mar, nem tanto á terra.

    ~CC~

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  5. "Se compreendermos que estamos cá para lutar, rua a rua, porta a porta, todo os dias, pela sobrevivência, valorizamos tudo."

    Mas e aqueles que não querem pegar em armas porque "sobrevivência" não lhes parece merecedor da peleja?

    O que pode a psicologia fazer pelos que desistem?

    Quando lhe entra um cobarde pelo consultório, o que lhe diz?

    Se a falha é moral, como a enfrenta a psicologia?

    Se do que se trata é nojo pelo suor (ou, mais benignamente, alergia), o que lhe faz?

    PM78

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