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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Outonando à mesa







Dizia Trimalquião  ( no  Satyricon, de Petrónio) que o ofício mais difícil  depois da letras é o de médico ou de cambista. O de médico porque sabe o  que os humanos  têm na entranhas, o de cambista porque descobre o bronze debaixo do banho de prata.  Por conseguinte serviu um jantar especial anunciado pelo escravo de serviço através de uns bilhetinhos. O meu preferido é "sabores tardios e injúria": carne seca  e um pau com uma maçã. Serve o intróito para tentar juntar duas coisas: escrever sobre comida e antidepressão. Ora, o remédio é simples: Camilo.
Um dos maiores é o cego de Landim,  a quem Camilo ( que demonstra  a tradição do arroz de marisco, mas isso fica para outras andanças)   inventa um método de arrasar  as más-línguas:
- Mano António, agora dizem que denunciaste os da moeda falsa.
-  Compra anhos e capões;  atesta essas línguas em  pudim de batatas, embolamos  com âlmondegas,  deita-lhes aziar de ovos em fio, afoga-lhes os escrúpulos em vinho de 1815, menina.

Outonar na cozinha alivia o stress do distúrbio sazonal. A chuva acolhe o pretexto para os primeiros guisados. Um chambão de vitela em caçoila de barro, só amancebado com azeite, cebolas, tinto, alhos e colorau. De ervas junte-se-lhe tomilho fresco e oregãos em folha, daqueles que se trazem das férias algarvias, e em ramo. O decreto: vaca de pastagem açoriana, ou aroquesa, e forno de três horas lentas e gelatinosas, com o futebol do JJ.
Pois, mas ainda há tempo para a transição rápida. Tendes figos pingos de mel e uvas moscatel ou Fernão Pires? Tudo para a frigideira com uma cornetada de  vinho fino. Na travessa depositem uma espalmada de broa, raspada com um dente de alho só para dar cor. Depositem os frutos macerados e cubram-nos com uma fatia de Ilha cura prolongada  ou, ainda melhor, um cabreiro de Idanha.  Cinco minutos de grill vivo  e... mesa.
Se com boa mesa, e não cara, boa companhia e um tecto, não se antideprimem, então até à Primavera.





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