email para contactos:
depressaocolectiva@gmail.com

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Aos que têm fé

E não aceitam o estoicismo. Bem, apenas um bocadinho, e enviesado, porque o assunto é-me caro e não cabe num texto. Enviesado  porque parto da crítica de Samuel Johnson, num texto de 1750, publicado no The Rambler, aos estóicos, crítica muito comum nos cristãos.
Johnson não apreciava o que ele entendia ser  o desprezo soberbo dos estóicos pela dor e pelas amarguras ( pobreza, fome, exílio, morte de amigos etc). Se a dor não é um mal, não vale a pena ensinar a resistir-lhe e isso será um caminho para  a rendição. Não é esse o entendimento estóico, mas por hoje fiquemos  com  o ( bom ) conselho  de Samuel: lutar sempre, desistir nunca.
Quando estiveres desesperado, foge da impaciência, mas não confundas a paciência e a submissão com a cobardia e  a indolência. Johnson  dirige-se aos que acreditam em Deus. A esperança, claro, é a arma do nosso crítico. E a esperança  significa que tudo depende de Deus, que espera de ti que resistas e aceites. Ou, como ele  recorda: bless the name of the Lord, wether  he  gives or takes away.
Para os incréus há sempre o estoicismo, mas fica para mais tarde.


7 comentários:

  1. Ao dr. Seara eu expliquei o melhor que pude de que modo Jesus Se me revelou, em Janeiro-Fevereiro de 1984. Foi uma das mais belas e mais perturbadoras fases da minha vida.

    Desde então, acreditei e deixei-me impregnar de Evangelho. Por vezes sou poeticamente desbocado e bruto, mas não o foram Oseias, Isaías e quantos acreditaram com um fogo humanista no Reino que Há-de Vir?!

    ResponderEliminar
  2. A questão é se a melhor forma de lhe resistir não é em parte vivê-la em vez de lhe fugir.
    ~CC~

    ResponderEliminar
  3. Nada melhor representa o pensamento Estoico que o poema de William Ernest Henley :
    Invictus



    Out of the night that covers me,
    Black as the Pit from pole to pole,
    I thank whatever gods may be
    For my unconquerable soul.

    In the fell clutch of circumstance
    I have not winced nor cried aloud.
    Under the bludgeonings of chance
    My head is bloody, but unbowed.

    Beyond this place of wrath and tears
    Looms but the Horror of the shade,
    And yet the menace of the years
    Finds, and shall find, me unafraid.

    It matters not how strait the gate,
    How charged with punishments the scroll.
    I am the master of my fate:
    I am the captain of my soul.

    Fica para mais tarde falar de Seneca, Epictetus e Marco Aurélio.
    manuel.m

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bom poema, mas é apenas uma parte do estoicismo.
      Teremos muito para falar. Mi casa es( será) su casa.

      Eliminar
  4. Recentemente um post de Pedro Picoito, um seu colega de blog, ao falar de Montaigne e do significado de uma particular passagem de um dos seus ensaios, fez-me voltar a procurar a companhia do escritor da qual andava arredado ultimamente . Foi surpreendente e gratificante descobrir, pelo numero de comentários a esse post, o interesse que despertou e que muitos são os admiradores dos “Ensaios” os quais, com as obras de Shakespeare e o D. Quixote, formam o trio das opera magna do Renascimento.
    Agora é FNV ao falar dos estóicos, o que inevitavelmente faz regressar Montaigne a esta amena cavaqueira, tão indelévelmente essa corrente filosófica lhe marcou a vida e a obra.
    Montaigne viveu tempos de grande violencia, com a França mergulhada numa guerra civil que durou décadas e que arrasou grande parte do país, enquanto que a peste dizimava indiscriminadamente a população. Não admira portanto que procurasse no estoicismo a força moral para enfrentar tanto infortunio, sendo essa filosofia um programa feito precisamente para se poder lidar com a mà fortuna – doença , morte, destruição – ao ensinar como cultivar a indiferença perante a dor fisica ou moral e encarar a vida como uma mera preparação para a morte. E na vida de Montaigne motivos não faltavam para necessitar de fortalecer o animo com a morte de cinco dos seus filhos, a do pai que adorava, e a do seu grande amigo de la Boetie.
    É neste estado de espirito que resolve retirar-se para as suas propriedades e fazer o seu Escriptorium na torre da sua mansão. É ele próprio que talha numa das estantes a frase de Lucrécio : Nec nova vivendo procuditur ulla voluptas – Nada se ganha em ter uma vida longa.
    O estoicismo cristão do Sec. XVI ensinava que o corpo e os sentidos eram para serem ignorados e reprimidos, e a vida era algo a que se devia poder facilmente renunciar desde que as condições morais e teológicas assim o determinassem.
    Essa corrente filosófica, (cujo nome vem de 'Stoa' , o pórtico sob o qual Zeno, o fundador da escola, ensinava os seus discipulos), diz que se deve separar o Eu das emoções e dos sentidos de modo a atingir-se o estado de “apatheia”, ou indiferença, e por essa via se ser capaz de enfrentar as maiores provações com altivez, ou seja, com “estoicismo”.
    Como exemplo Montaigne cita o caso do general romano Gaius Mucius Scaevola o qual, tendo sido feito prisioneiro pelos etruscos, ao ser conduzido à presença do comandante inimigo mergulhou a mão num braseiro que estava próximo sem demonstrar sentir qualquer espécie de dor.
    Os etruscos, estupefactos perante esta demonstração do valor do soldado romano, trataram imediatamente de fazer a paz.
    No primeiro livro dos seus Ensaios, Montaigne volta repetidamente à questão da morte, escrevendo que esta constitui o maior problema moral, teológico e filosófico que se põe ao Homem : “Toda a sabedoria e conhecimentos deste mundo conduzem a um unico ponto – Em como conseguir não ter medo da morte”. Para ele este é o assunto fulcral da filosofia, e um dos seus primeiros Ensaios é intitulado precisamente : “Filosofar é aprender a morrer”.
    Noutro dos seus Ensaios , “Da Prática”, descreve o paradoxo que sendo o acto de morrer o mais importante de uma vida não ser no entanto possivel de ser ensaiado, o que faz com que “quando chegar a altura somos todos aprendizes”.




    ResponderEliminar
  5. Mas a certa altura Montaigne muda . E quando muda, muda tão completamente que ele próprio apaga a inscrição, (cujos vestigios ainda hoje existem), que tinha feito na sua biblioteca : “Nada se tem a ganhar em ter uma vida longa”.
    Mas se apaga uma inscrição outra faz, e é ao Eclesiastes que vai buscar inspiração : “Aquele que não sabe em como o corpo e o espirito estão unidos nada conhece da obra divina”.
    Esta mudança significa simplesmente a troca de uma filosofia da morte por uma filosofia da vida, um voltar de costas ao pessimismo, um novo hino :”...viver feliz e não morrer feliz é que é a verdadeira fonte da felicidade humana...”
    Montaigne deixa para traz o desespero e goza, aprecia, o simples facto de estar vivo e os Ensaios tornam-se uma especie de Carpe Diem, onde o autor nos diz que a razão para se viver reside exactamente em poder sentir a experiencia de se estar vivo.
    E ele escreve sobre tudo e o mais importante é que afirma que cada um de nós tem uma maneira única,absolutamente extraordinária, de ver o mundo que ele quer conhecer. Não recuse este pedido, leia os Ensaios, e verá que acontece.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.