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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Feeling blue?


A distinção é entre estar triste e estar deprimido é escorregadia. Por vezes desaloja a marca temporal. Hoje trago o meu exemplo. Tinha o meu filho mais velho treze anos e foi a uma viagem de finalistas do nono ano. Durante  essa semana andei angustiado e triste. Aparentemente, seria a preocupação com a viagem do miúdo ou com a sua ausência. Não era. O rapaz tinha um horário escolar que fazia com que almoçássemos juntos  todo os dias da semana. Falávamos de futebol ( com A Bola em cima da mesa, para análise detalhada) , rigolades e assim. Durante  essa semana almocei sozinho , mas também não foi isso  que me atirou ao tapete.
O problema foi uma cadeira vazia. Quando, uns anos antes, me morreu o João, com ano e meio, ficou a faltar um à mesa. A cadeira vazia  do jovem excursionista recuperou todo o mato desse dias. Uma angústia irracional, pesada como  o IRS, contratada pela advogada da memória, atropelou-me. A pergunta: fiquei deprimido ou apenas triste?
A distinção é relevante, porque as decisões terapêuticas afectam a vida das pessoas. Têm aqui o resumo das teses de um senhor que se ocupa da espitemologia da mental disorder. Tendo, com  a experiência, a considerar isto: a resposta não está  no que sentes, mas na forma como reages.
Ou seja, se ficamos estuporados pela tristeza, se lhe entregamos  os pontos, e por vezes não há alternativa,  é  a depressão; se analisamos e racionalizamos, reagimos.

13 comentários:

  1. "a resposta não está no que sentes, mas na forma como reages". parece-me lapidar Filipe. Aprendi (?) tarde a reagir bem à dor (e se a conheço, nas suas mais diferentes matizes), não lhe escapando, abraçando-a. Como fez Jesus Cristo.
    Forte abraço.

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    1. Ainda tenho de ir a isso, ao papel da religião na recuperação. E será a propósito de um caso triste e relacionado .
      outro, João

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  2. Há vários tons de Blue. À tristeza mais profunda e permanente eu chamo "depressão branca", à falta de melhor. Neste ponto já se torna escorregadia a diferença para a depressão propriamente dita e.a partir daqui é com os psis. E com a Maria Luisa Albuquerque, é claro

    caramelo

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    1. Não chamas tu, esse termo existe mesmo embora não exactamente nesse sentido mas perto.

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    2. não sabia, mas já fui ver ao google.

      caramelo

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  3. Perdi uma filha com sete anos, vai para doze. Não andei deprimido, andei triste, e esta tristeza mantém-se aqui e ali, em dias em que me lembro como me morreu, que pode ser mais forte do que lembrar que me morreu. O que me "salvou"? A Fé. A Fé, seguramente! Como, não sei explicar, talvez ajudando-me a encontrar um sentido para a vida, abrindo-me a mente e o coração para uma espiritualidade que me fizeram olhar em frente e perguntar "para quê?", por oposição a "porquê?". É fraca a explicação, eu sei, mas não sei mais do que isto...

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  4. Como não correu a ir buscá-lo, aguentou a tristeza, adaptou o seu comportamento a ela.
    Quanto à fé, acredito. Mas quem não a tem, também não me parece que consiga inventá-la para curar a ferida. Fica tudo mais difícil.
    ~CC~

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  5. A Bola em cima da mesa não é caso para CPCJ? :)

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  6. Caríssimo FNV, sempre que aqui venho encontro a tragédia!! A tragédia de uns e de outros, que nos trás! Mas que hoje nos trás, entre vírgulas, a sua tragédia! Não deve, caro FNV, haver tamanha tragédia quanto a de um pai enterrar um filho, é, pelo menos, assim que vejo!! Leve daqui os meus olhos abertos e um abraço pesado!! Um bem haja

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  7. E será mesmo preciso reagir, porque não deixarmo-nos invadir pela tristeza? E se quisermos estar tristes ou simplesmente ser tristes e ponto final? Esta semana lia um artigo no Ípsilon sobre um miúdo que compõe umas coisas com uma certa graça e, a dada altura, ele dizia que a felicidade constante é uma morte aos poucos e revi-me nas suas palavras, cansa-me a alegria constante e estupidificante em que é suposto vivermos. Uma sociedade que rejeita a tristeza, o sofrimento, os velhos, os fracos e os cansados da vida é uma sociedade doente e talvez aí esteja a origem de tanta depressão. Vivemos nos extremos, ou esfuziantes de alegria ou deprimidos. Gosto de estar alegre mas também gosto e reclamo o direito de estar triste quando me sinto triste e não me venham com comprimidos ou psis. A música ajuda, torna a tristeza habitável. Pergunto-me até se é possível gostar de música, de literatura, ou amar alguém, sem gostar um pouco de estar triste. O que seria de nós sem a doce melancolia, seríamos ainda humanos?

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  8. Claro. Se percorrer este blogue verá isso mesmo ( veja post DepressionQuizz e o conselho qu edou)
    Este post é para pessoas que não gostam de estar tristes e confundem isso com depressão e depois intoxicam-se em medicação.
    Por outro lado é preciso ver que nem toda a gente sente como vc: pessoas que não gostam de estar tristes .

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