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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Consolações


Crisipo, no Therapeutikos,  Crantor e Séneca ( imagem)  estabeleceram a psicoterapia ( as consolações) num eixo estóico-epicurista, sim, ou seja, apelando a razão e a normas filosóficas que transcendem a existência individual. A psicologia de hoje rende-se aos indivíduos, tornando impossível descortinar  qualquer patamar de normalidade ou responsabilidade. 

Scio a praeceptis incipere omnis qui monere aliquem uolunt, in exemplis desinere. Diz ele que às vezes se pode inverter a ordem - começar pelos exemplos e acabar nas recomendações - porque  é preciso adaptarmo-nos  a cada caso particular. Por isso, Séneca, na consolação a Marcia, a quem morre o filho, escolhe os exemplos de Octávia e de Lívia, também elas sobreviventes do luto. O objectivo terapêutico do estóico é opor a Márcia exemplos  de resistência, para que ela não fique como o capitão do navio   que, no meio da tempestade,  desiste de luta contra as vagas e deixa que as velas se rasguem à ventania.
Quando o meu filho morreu, o Carlos Amaral Dias, nos jardins do hospital, pegou-me pelo braço e caminhámos em silêncio. A certa altura  só me disse esta coisa fabulosa: Não deixes que isto te torne amargo.Tenho um doente que ficou assim. Sendo psicanalista, portanto,  adversário do método therapeutiko estóico-epicurista, foi , no entanto, esse método que utilizou, ainda que de uma forma particular.
O último caso que acompanhei foi o de uma senhora que perdeu um dos dois filhos. Morreu já adulto num acidente. Já nada lhe interessava , só queria  ir ter com ele. É uma mulher simples ( sem instrução como diz o Soares sobre o Eusébio) que compreendeu isto que lhe disse: Você não é só uma mãe de um morto. Também é mãe de um vivo, é mulher de um homem, irmã, tia, prima, amiga. A sua dor é de todos. Aceitou e recuperou, que é como quem diz, vive. Amputada, para se salvar  da gangrena, mas vive.

5 comentários:

  1. caro fnv, que grandes abanões nos dá...

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  2. A amargura é pior que a morte. É o próprio inferno.

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  3. peço desculpa pelas gralhas, não posso fazer a revisão onde estou.
    logo resolvo

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  4. Em 2001, católico que sou, formulei intimamente três desejos: que a minha filha se curasse; que ela não sofresse; que eu não me azedasse com a vida. Deus - gosto de dizer que foi Deus, apesar de todas as possíveis contradições - concedeu-me o último, porque foi um trabalho interno entre mim e o meu destino. Os outros dois não são obra de ninguém, apenas da (im)perfeição da vida. Não sofreu, e talvez isso me tenha ajudado ao não azedume, tendo eu conseguido construir uma história. E todos os sofrimentos são suportáveis se o conseguirmos fazer, não é? Enfim, 12 anos depois e ainda comento estes temas. Obrigado por volta e meia falar nisto. Aprendo sempre.

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  5. Homessa, nada a agradecer. Tem de ser só volta e meia et pour cause... eu é que aprecio muito a sua contribuição.

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